Já mudei meu sobrenome, meus costumes. Já rejeitei meus abraços e meu solitário coração. Nem mesmo carnalmente cercada de pessoas estou, estamos todos sempre sozinhos. A solidão já não me aparece como mulher encantada, nem mesmo como bela dançarina. Agora ela é fantasma, tem lápis borrados jogados pelo rosto e camisa larga demais para seu corpo magro, está sempre chorando e se ofendendo. Já não quer mais abraços e não me propõe mais convites. Quem era eu antes ficcialmente sozinha, agora estou realmente solitária.
A fome já não mais tenho, ambições vão saindo finamente sem que eu perceba, desejos são despedaçados e a minha energia decaiu. O que me resta são braços sem força para serem levantados, ou até mesmo aqueles nós na garganta que nunca serão desamarrados. Um sorriso cabisbaixo surge no canto da minha boca após ter fitado algumas ligações perdidas em meu celular.
-Alguém me procura - eu penso.
Vejo um número desconhecido, de um DDD distante e quase pulo de alegria ao pensar em você, é. Imaginar seu rosto, sua cor de pele e quase acreditar num suspiro de alegria que você existe. Que não está apenas eternamente em meus sonhos como estará eternamente ao meu lado. Senti seu abraço, juro. Senti sua textura de casca de morango e até a brisa que sopra dos seus sussurros. Demorei um tempo pensando em ti, como seria seu cafuné ou seus beijos de pescoço. Corajosa, apertei o botão.
-Olá?
-Olá
-Este número me ligou a pouco, quem gostaria? – eu disse.
-Oh querida, perdão. Devo ter discado o número errado.
Vi a frustração incorporada rir de mim a minha frente, ela sorria tão sarcasticamente que chorei. Então, as lágrimas me voltaram. Saí do meu quarto e me jogaria fora se não acabasse observada por olhos curiosos, e sussurros de inferioridade. Coitada, inacreditável, triste. Diriam. Não quero ouvir isso, mesmo quando já não possa ouvir.
Levantei-me ainda ouvindo o riso da frustração no meu quarto, pulando de tanto gargalhar. Com alguns passos incertos cheguei à varanda e encontrei um bilhete "P, lembre-se de regar minhas azaléias". Sentei-me na poltrona colocando-as sobre meu colo.
Posso garantir que as reguei assim como toda noite as rego, mas desta vez: com lágrimas.
Pois, pensei que fosse você.
domingo, 11 de abril de 2010
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Quem é a pessoa que você fala no texto?
ResponderExcluirAh... se eu soubesse...
ResponderExcluirhummm
ResponderExcluirVozes sussurraram em meus ouvidos, mandaram-me vir fazer uma visita a seu blog novamente.
ResponderExcluirE... Aqui estou. Estupefato com seus textos...novamente.
Essas vozes me provocam o dia inteiro me falando o que fazer ou o que não fazer. Obrigada, mesmo. Pelos elogios e os deselogios.
ResponderExcluirda uma olhada nos comentário do resto "Assim minha mãe espera.", ok?:)
ResponderExcluirHaha, dei sim. Comentei já.
ResponderExcluirNossa gente obrigada mesmo por frequentar o blog periodicamente (:
"Imaginar seu rosto, sua cor de pele e quase acreditar num suspiro de alegria que você existe. Que não está apenas eternamente em meus sonhos como estará eternamente ao meu lado."
ResponderExcluirLindo texto *---*
Que texto mais lindo, vocÊ faz brotar em mim sentimentos inexplicaveis. Você é perfeita mila!
ResponderExcluirAh gente, obrigada mesmo. :D
ResponderExcluirDesculpem a demora para outro texto, mas é que estão me faltando palavras.
Beijos !
mila, eu acho que esse e um dos seus melhores textos. também, comigo pra te inspirar, né...
ResponderExcluirRana, acredite: você não é deus.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO jeitinho que você vai encontrando pra dizer as coisas, dando forma e nome pra cada uma delas. Adoro isso (:
ResponderExcluirvocê é muito boa.. não pare!
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