domingo, 14 de novembro de 2010

World Apart

Um dia acordei sem vontade de acompanhar o pôr-do-sol sozinha, com umas ligações a chamei pra ir ao terraço da minha casa, onde a gente sempre se encontrava, sabe? Ou naquele nosso barco de Londres, no seu bordel ou no apartamento que ainda estamos pra alugar, quando formos pra Bellas Artes. Qualquer parte de um mundo à parte, da qual os poucos problemas nem existem mesmo, e ficamos lá conversando e ouvindo a boa música cotidiana, rindo e falando besteira não muito pensada.
Daí, enquanto falávamos sobre o próximo ato inconseqüente e divertido que faríamos, ela se levantou e olhou bem nos meus olhos e assim, sem motivo - como a maioria de seus atos - começou a chorar, e a rir ao mesmo tempo. Começou a andar pra trás com o seu tênis favorito, e as mãos nos bolsos da calça jeans, enquanto eu gritava mais do que seguidas vezes o seu nome. Levantei correndo e fiquei paralisada. Meio assustada, meio risonha. Sem saber se ela estava aprontando mais uma: e estava.

Ela andou o suficiente pra chegar bem à beirada do terraço e disse:
- Eu só gosto de sorvete sabor creme, com uvas passas.
Jogou-se de lá em silêncio, com o rosto virado para o seu último pôr-do-sol.
Eu fiquei lá, encarando em silêncio o nada. Sem saber o que fazer com o empréstimo que tomamos pra comprar os engradados, ou o que fazer com todas as nossas fotos e os ingressos das nossas bandas favoritas.
Foram tantos sonhos, tantos futuros, tantas possibilidades, era tanto tudo: Ela só gostava de um único sorvete, o que eu poderia fazer?
Eu considerava muito pouco, antecipar seu fim por uma preferência, já que podia ter preferido a mim, a sua família, a seus amigos, aos seus ídolos: a ela mesma.

Porque, porque você não se prefere?
Se ame, eu te amo.

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