Segurava ele em minhas mãos, agora em forma de camundongo ele subis sobre meus braços e se aquecia dentro da minha blusa. Sussurrava em meu ouvido palavras amadas e com cheiro de lareira em tardes frias. Balbuciava palavras incompletas novamente, por causa do frio e do medo do inconfirmado. Ia andando na direção que a morte me mandara, até chegar em uma canoa que me levaria pra meu destino seguinte. O velho jangadeiro que fazia a viagem disse:
-Pode se sentar, madame?
-Não.
-Sente-se Madame- Dizia agora ordenando.
-Levarei ele comigo.
-Não- disse o senhor com um pé de galinhas em cada olho, representando o peso da idade que tinha.
-Porque não? - Dizia eu ignorando as normas.
-Creio que não posso dizer que te entendo, nunca tive um companheiro como vocês tem. Do lugar onde venho, eles não existem. Porém, compreendo que é de grande amor.
- Se compreende, porque não posso levá-lo comigo? - Agora eu implorava.
-Peço que você igualmente compreenda que essa são as regras, você terá de ir. Ele terá de ficar.
Nesse momento minha garganta cedeu a pressão que fazia e grandes soluços vieram a ser soltos, transformados em urros de dor. De camundongo se transformou em um guaxinim e com sua mascara preta ele lambia as lágrimas dos meus olhos. Eu o beijei enquanto tentava dizer a mim mesma que ficaria tudo bem, mesmo sabendo que era uma grande mentira. Ele desceu sobre meus braços e foi para o chão olhando pra mim com aqueles olhinhos pretos brilhantes.
-Vai ficar tudo bem - eu disse, mesmo sabendo que ele lia minha mente e também discordava de mim.
Não, não vai ficar tudo bem. É difícil de aceitar, de crer. Como pode? -ouvia seus pensamentos.
- É, ficara tudo bem. - disse ele em voz alta agora, igualmente mentindo. - Você foi uma companhia maravilhosa.
- Você foi um dimon maravilhoso!
Nos olhamos por um longo tempo até sermos interrompidos:
-Não posso demorar demais. - disse o velho resmungando.
Nós dois agora chorávamos na beira do cais, em frente a canoa. Berrávamos igual as crianças que verdadeiramente somos. Não chorava mais lágrimas salgadas, chorava sangue agora, chorava a dor do meu coração sendo apertado pela distância. Ia caminhando pra jangada sem olhar pra trás. Me sentei sozinha ao fundo, enquanto sorria pra ele um sorriso tão encharcado e ele me devolveu igualmente esse sorriso.
-Tente não pensar sempre em mim, Pan. - disse ele agora em forma de um gato domestico.
Como não pensaria sempre nele? Seria apenas o que eu pensaria! Como esquecer todo o tempo que ele esteve ao meu lado, eternamente aquecendo meu peito e me alegrando com risadas? Sorte minha se me esquecesse, mas, se dependesse de mim essas memórias seriam eternamente aquecidas.
-Tentarei, mas é impossível! - Tive de gritar, agora já estava muito longe. E meu coração apertado doía com a força de um martelo. Parecia que tudo de bom da vida, agora sumira.
Fechei os olhos e quanto mais evitava as lembranças, elas apareciam. Afinal, não se diz não ao cérebro.
Meu fluxo de pensamentos foi interrompido por uma fala velha e ranzinza do condutor:
- Não é a primeira que chora. Alguns se negam, outros aceitam, outros até mesmo pediram por isso. Uns dizem, que vão chamar o superior e que houve um engano. Até oferecer dinheiro me oferecem, tão poucos sabem que aqui dinheiro nada mais é do que um pedaço velho de papel esquecido.
Me apeguei aquelas palavras como uma criança em seu cobertor quente, elas era que eu tinha pra em alimentar agora. E foi nelas que fiquei pensando todo o caminho até o mundo dos mortos.
Depois continuo.
sábado, 20 de março de 2010
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Foi um sonho que eu tive que me lembra o livro do Phillip. Só que já não o acho em minha estante e gostaria de colocá-lo de minha forma.
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