Silêncio parece ser a única possibilidade a ser escrita. Faltam-me palavras mesmo tendo uma grande quantidade delas guardadas em minha gaveta. Já não sei mais usá-las e tão pouco sei entendê-las. Atraio alguns olhares curiosos e algumas bocas insatisfeitas: Não sei satisfazer sua fome de energia. Toda minha alma e meus cantarolos foram esgotados e mastigados pelo interesse alheio.
Agora conto com minhas próprias mãos, com meus próprios pés, meus próprios olhos e meus únicos ouvidos. Deve saber que é difícil contar consigo mesma quando não acredita em uma única palavra que diga.
Minhas fantasias de infância não cabem mais em mim, depois da serpente e sua maçã, elas precisam de ajustes igual a minha cabeça, de uma agulha afiada e uma linha avermelhada. Vestidos, vestidos e vestidos jogados em um relicário abandonado.
Depoimentos de uma sepultura, de uma ex-morta, de uma renascente. Meus olhos já foram sepultados junto com minha boca e meus ouvidos, mas agora, cansei. E de tempo que eles já estão descosturados e soltos pra ofender e ser ofendido, pra elogiar e ser elogiado e perceber cada ato que não corresponda a ausência de barulho.
Cuspa na minha cara, bata no meu rosto, chute-me ou espalhe seus gritos por meus ouvidos. Mas, nunca, fique em silêncio. Odeio seu silêncio, porque consegue ficar em segurança nele. Enquanto a minha segurança são minhas lágrimas, que de nada servem. Grite, vai, chore, coma, alimente-se, minta, falsifique, prove que você também é humano e que ainda existe em você alguma quantidade de batimentos dentro do seu coração. Vivo uma maré cheia de silêncio agora. Acho que uma página vazia não diria o que eu quero dizer. Porque ao contrário do que você pensa, o silêncio é ensurdecedor.
quarta-feira, 31 de março de 2010
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direi isso a paula:
ResponderExcluir'Odeio seu silêncio, porque consegue ficar em segurança nele'
thanks, hoho
Bom saber que ajudo seu lado B a ser feliz! haha
ResponderExcluirmaravilhoso *o*
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