terça-feira, 20 de abril de 2010

Carta de desculpas.

Escondo-me enquanto as palavras correm a minha volta, perdida estou. Doente, seca e quase morta. Semana corrida, computador quebrado, prova de matemática e doenças me limitam a uma passagem rápida e um grito de socorro por aqui.

Esperem, caro leitores. Por tempos melhores que logo viram.


Garanto-lhe.

domingo, 11 de abril de 2010

Azaléias.

Já mudei meu sobrenome, meus costumes. Já rejeitei meus abraços e meu solitário coração. Nem mesmo carnalmente cercada de pessoas estou, estamos todos sempre sozinhos. A solidão já não me aparece como mulher encantada, nem mesmo como bela dançarina. Agora ela é fantasma, tem lápis borrados jogados pelo rosto e camisa larga demais para seu corpo magro, está sempre chorando e se ofendendo. Já não quer mais abraços e não me propõe mais convites. Quem era eu antes ficcialmente sozinha, agora estou realmente solitária.
A fome já não mais tenho, ambições vão saindo finamente sem que eu perceba, desejos são despedaçados e a minha energia decaiu. O que me resta são braços sem força para serem levantados, ou até mesmo aqueles nós na garganta que nunca serão desamarrados. Um sorriso cabisbaixo surge no canto da minha boca após ter fitado algumas ligações perdidas em meu celular.
-Alguém me procura - eu penso.
Vejo um número desconhecido, de um DDD distante e quase pulo de alegria ao pensar em você, é. Imaginar seu rosto, sua cor de pele e quase acreditar num suspiro de alegria que você existe. Que não está apenas eternamente em meus sonhos como estará eternamente ao meu lado. Senti seu abraço, juro. Senti sua textura de casca de morango e até a brisa que sopra dos seus sussurros. Demorei um tempo pensando em ti, como seria seu cafuné ou seus beijos de pescoço. Corajosa, apertei o botão.
-Olá?
-Olá
-Este número me ligou a pouco, quem gostaria? – eu disse.
-Oh querida, perdão. Devo ter discado o número errado.
Vi a frustração incorporada rir de mim a minha frente, ela sorria tão sarcasticamente que chorei. Então, as lágrimas me voltaram. Saí do meu quarto e me jogaria fora se não acabasse observada por olhos curiosos, e sussurros de inferioridade. Coitada, inacreditável, triste. Diriam. Não quero ouvir isso, mesmo quando já não possa ouvir.
Levantei-me ainda ouvindo o riso da frustração no meu quarto, pulando de tanto gargalhar. Com alguns passos incertos cheguei à varanda e encontrei um bilhete "P, lembre-se de regar minhas azaléias". Sentei-me na poltrona colocando-as sobre meu colo.
Posso garantir que as reguei assim como toda noite as rego, mas desta vez: com lágrimas.

Pois, pensei que fosse você.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

sangue, suor e lágrimas.

- Não. - Foi o que foi solto da sua boca. Seus olhos pediam para acreditarmos. Eu, grande e experiente leitora de olhos, acreditei fielmente em cada letra dita. Quase duvidei quando negou o que disse posteriormente e por fim reinou o sim.
Ele já não poderia mais sorrir, seus lábios ressecados sangrariam se isto fizesse. Já não tinha motivos então pra viver. Alguns cigarros amassados no bolso, uns goles de alguma bebida de grande teor alcoólico e uma esperança de dias melhores.
Seria bem melhor se o vilão fosse um outro alguém, do qual o visse como bonzinho e que a apartir dele o público aplaudisse a sua vitória. Só que esse outro alguém era ele mesmo, e agora, a briga era pra ver sua morte. Tardes vazias, violentas e pesadas. Onde o peso da consciência faz com que fiquemos na cama. Este era o seu silêncio, matando o horizonte.
Nunca gostei tanto de histórias de amor bem sucedidas, e talvez, por isso já não tenha me aproximado tanto dessa até chegar bem pertinho do gosto do fim. Saboreio histórias que envolvem sangue, suor e lágrimas. E só disponibilizo minha mão pra ajudar as pessoas que já estão na beira do abismo. Chegou minha hora afinal de demonstrar minha compaixão por começo do embalo dessa carroça.
- Mas eu me arrependo - ele continuou
Então estava certa de que era possível perdoá-lo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

assim minha mãe espera .

Quero um filho que não coma carne vermelha, chupe gelo, cheire a menta, leitura freqüente, seja gay, indie e claro, que seja viciado em tic-tac sabor laranja. Mesmo planejando não ter nenhum, se tiver, não irei exigir nada disso do meu filho. Somente que troque algumas vezes de cueca, goste de chá pela tarde e seja um bom ouvinte. Odeio exigências mesmo cobrando o tempo todo das pessoas coisas das quais tenho em sobra, sei que o lado mais pesado da balança do relacionamento é o meu. Já que me engordo de obrigações desabrigadas. Não nasci pra ser acompanhada de algarismos romanos, véus de noivas ou morar na Londres vitoriana. Vejo-me como aquelas trapaceiras que contam dinheiro lambendo a ponta dos dedos, com seus palitos na boca. Habitante de becos imundos. Um pouco da coragem dos suicidas por boas causas e até sinto um prazer por capas de super-heróis. Talvez não seja nada disso, mesmo. Ou talvez ser alguma coisa parecida com estas seja imbecilidade, quem sabe não sou apenas uma menina comum, com pensamentos comuns que vai se formar em Geometria Analítica, Algebra Linear ou Contabilidades? Com um marido fixo, IPTU em dia e com um sobrenome adorável?
Assim minha mãe espera.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

cantiga dos ventos.

Seus cabelos poderiam ter fios de ouro, ou seus olhos serem feitos de diamantes. Porém, ainda assim sua mente valeria imensamente mais. No entanto, com uma quantidade de motivos pra ser feliz, que não se pode contar nos dedos, ela estava sentada. No chão, de cabeça abaixada e mãos sobre as pernas. A sua frente, uma velha de fios brancos e cara enrugada como uma uva passada da validade, roupas rasgadas e sujas. Rosto marcado pelo peso da idade e valendo tão pouco quanto uma latrina. Fitando a menina dos olhos de diamante a sua frente.
Usando a curiosidade, sentei-me ao lado daquele par de figuras e os encarei em silêncio, por muito tempo. Não teve muitas oscilações de humor ou qualquer alteração nas suas posições. As duas poderiam ou deveriam ter passado a eternidade juntas ali. Uma de frente pra outra sem, provavelmente, ter dito uma palavra apenas pra outra. Decidi então falar, pousei uma de minhas mãos no ombro da mais jovem e disse:
-Já faz quanto tempo que está aqui em silêncio junto a ela? – Parecia então que só agora ela havia me notado e vagarosamente foi juntando seus olhos brilhantes aos meus. Depois de me olhar por completa olhou ao redor procurando alguma coisa.
-Ela? Ela quem? – Disse por fim confusa.
A Julgando muito distraída imaginei que ainda não tinha visto a senhora amarrada em depressão a sua frente. E que tão pouco se importava com ela. Apontei pra senhora e disse:
-Esta! A sua frente. – Seguindo meu dedo apontado ela parou para observar fazendo uma cara de ainda mais confusa. Segui pra ver o que olhava e dei de cara com meu próprio reflexo apontando pra mim. Agora me tornei mais confusa que ela.
-Lhe apresento a um espelho – disse enfim revirando os olhos brilhantes.

Já cantei aos ventos meus ódios pelos seres humanos, desilusões e desaprovações. Porém, hoje já amadurecida percebo que se trata de uma eterna admiração ou quem sabe amor por esse comportamento interessante. Tenho esse acontecimento e outros guardados embaixo do meu travesseiro, que contam cada dia mais a minha inusitada surpresa por atos tão mortais. Como pode uma pessoa em potencial ter uma visão tão errada de si mesmo? Se ver como o próprio ódio incorporado quando, se parasse um pouco sua impaciência e calasse seu desdém provaria a o gosto da cor do mundo!
Dedicado a você, menina.
(:

quinta-feira, 1 de abril de 2010

prostituição mental .

Minhas calças ficavam caídas aparecendo à beira de minhas roupas de baixo, por ter um grande peso em meus bolsos. Uma arma e alguns telefones anotados que nem mesmo lembro-me de quem são. Acelerei meu passo curvando a esquina a minha volta. E avistei acolá um sujeito de paletó-café encostado na esquina mexendo em algum aparelho eletrônico que não me servia para nenhuma utilidade. Era quem eu procurava, quem tinha-me algo de interessante.
Cheguei mais perto colocando agilmente minhas mãos aos bolsos para tirar o revolver que ali estava e apontá-lo em meio à testa do semi-desconhecido.
- Não tenho dinheiro, tenho apenas isso. - Apontando pra algo de ultima linha que pouco me importava saber o que era.
- Isso não me interessa. - disse.
- O que quer de mim?
Foi à hora que passei graça e perfume nas minhas palavras mais bem escolhidas e disse polidamente o que me fez de forma tão agressiva ir à noite naquela esquina:
- Poderia pedir seu instrumento, mas este pra mim é insignificante. Poderia pedir sua carteira, ou seu medo. Porém não preciso de carteira e nem mesmo de medo, que já tenho muito.
- Então, o que quer de mim? - repetiu o sujeito.
- Quero de você o que quero de todos os humanos, quero de você o que o mundo me tem como divida, quero saber a verdade sobre você, sobre todos e sobre mim. - respirei fundo e disse - O que está pensando agora?

-


Sim, pagaria muito caro - até mesmo o preço da minha sanidade que não tenho - pra poder ler, e ter, o pensamento de certas pessoas. Tem certas lógicas e temperamentos que custam mais do que uma casa recheada de m² ou de uma lancha com itens de lazer. Necessito tanto dos impulsos nervosos alheios que seria capaz de assaltar seus pensamentos com uma arma, serei capaz. Existe prostituição de corpo, mas a prostituição mental é tão fútil, pessoas se vendendo por etiquetas e símbolos que tão pouco significam além de status que destes não daria três cruzeiros apenas para ter conhecimento, aliás, daria o dobro pra essas mentes que cheiram a gloss fiquem bem caladas em seus devidos lugares.

E você, quanto me oferece por seu pensamento atual?