terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Exploda-se

Você entrou na loja errada: Não vendemos donuts.
Por muito tempo foi suficiente olhar pra sua cara e entender tudo que você queria dizer, rir do nada, bem alto e ter momentos estrábicos de tanta alegria.
Então você se surpreendeu d'eu falar que queria que você explodisse e que não queria saber o que você tinha pra falar. Se melhora dizer, eu não queria que você explodisse no sentido literal (risos). Eu não vou te ajudar com algo que não acredito, não gosto e não concordo. Eu realmente não quero ouvir uma história que eu já ouvi antes e que já sabia: Eu sou assim.
Eu respeito - e entendo - toda a sua insegurança e todas as coisas que não gosto em você e que me faz revirar os olhos. Eu não reclamo disso.
Às vezes me pergunto se você diz que eu me volto pras minhas unhas, porque você não quer aceitar com clareza a verdade de que não quero sorrir pra você às vezes. Eu não sou fofa – se surpreendam – sou verdadeira no sentido ruim, sou grossa e machuco.
Você pode reclamar disso, mas não peça pra eu mudar. Você mesma falava sempre, que não conseguia mudar nas coisas que eu lhe aconselhava. Também não consigo, ora.
Você não está errada, eu sou um cavalo filho-da-puta de tão grosso. Não vendo donuts, vendo as panelas de pressão que fazem seu feijão explodir.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O fax e Almiro

Fazia três semanas que comia pão seco, que não ligava luzes após as 22hrs e que não acenava: Tinha medo de abrir a mão. Toda economia era validada, nada poderia ser gasto sem necessidade. Ele, incompreendido, não via aquilo como uma atitude mesquinha, se considerava um homem ambicioso.
- Os homens ambiciosos são assim, sofrem por algo que querem muito. - Ele dizia.
Decidiu regularizar sua vida, passou a trabalhar mais, aproveitar menos e tudo com um grande objetivo: Um fax.
Você deve estar achando engraçado, já que você deve ter jogado fora seu fax na semana passada de tão velho e sem valor que estava. Bem, queria Almiro ter nascido em uma época dessas! Ele é dos tempos de Plutão como planeta, os velhos.
Depois de muito ardor, lá estava a sua quantidade de cruzeiros necessários pra comprar o seu tão esperado item e o comprou, feliz.
Ao terminar a leitura do Manual de Instruções colocou-se frente ao objeto amado e, boquiaberto, tomou um susto. Deslizou as mãos sobre o corpo e deu a pausa de um instante pra se sentar no sofá.
Pra quem mandarei um Fax? - pensou ele.
O pobre Almiro trabalhou tanto por uma coisa da qual poucos tinham disponível para lhe dar: Enviar mensagem por um Fax ainda não era um costume. O Fax, de sonho virou fardo, passeava todas as tardes à procura de alguém que dividisse esse sonho com ele. Nunca achou.

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Eu me trabalhei muito, preparei muito a minha cabeça para que enfim me permitisse gostar de uma pessoa sem me chatear, após ela repetir uma palavra muitas vezes, ou ter um lado do rosto assimétrico ao outro ou gostar de uma banda que me arrepie ao ser pronunciada. Enfim, ao comprar com esforço essa capacidade - que talvez a adolescência e seus hormônios tenham me dado - não encontro ninguém para dívidi-lo. Quem me conhece percebe que não sou dessas que acha que o amor dói, ou que o amor seja uma doença. Sou racional demais pra essas coisas, mas não nego que o amor faz com que você se perca e depois te dê o caminho como presente. Amar, no sentido de um relacionamento pós-afetivo apenas, é bom. Eu o quero, mas não encontro alguém com quem posso dividí-lo e nem Alguém me encontra. E no final eu me pergunto se estou mesmo procurando, compreende?





Você tem um Fax?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Não tem ninguém.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pensar como um Caio

Logo no final da minha rua, a penúltima casa – se você desconsiderar a de cerca vermelha – morava uma família dessas que as empresas de margarina procuram pra gravar as suas propagandas de café da manhã.
O pai, além de um sobrenome bonito, era requisitado no que fazia. A mãe, além de fazer uma famosa torta de cereja, tinha bonitos cachos feitos com um fixador em spray para cabelos. Eu nunca falei realmente com o Pai, mas dava-se para notar – com aquela intuição que evitamos chamar de preconceito – que era ambicioso e inteligentíssimo. A mãe passava lá em casa para nos dar uma gelatina colorida em forma de bichos feita por ela mesma, dizia que gostava do cheiro da minha casa, mas todo mundo sabia que ela gostava mesmo é de deitar a cabeça no travesseiro e se sentir incrivelmente foda por isso.
Essas duas personalidades são clássicas, você pode ganhar gente desse tipo em um brinde no seu cereal, mas não como o fruto deste casal.
Tive a oportunidade de conhecer Caio em um verão que fui ao lago com alguns amigos em comum que nos tínhamos. Caio, de primeira, chama atenção pelo grande par de olhos azuis que carrega em seu rosto, não fui uma das garotas que achou ele lindo: Logo de primeira percebi que ele era um babaca. Ele era do tipo que não olhava para os dois lados antes de tirar meleca e não comia a famosa torta de sua mãe, simplesmente porque achava mais rápida e saborosa a secreção gosmenta que ficava seguidamente em seus dedos: Ele comia a própria meleca. Não sabia a capital de lugar nenhum, nem mesmo do país em que o conheci, que morava ainda garota: Ele não tinha interesses.
Para Caio era bobagem discutir sobre a sua existência no universo, não acreditava em planetas além da terra, e nem perguntei o que achava sobre a gravidade – aposto que também não acreditaria – não acreditava em vida pós a morte, simplesmente porque não acreditava na própria vida em que vivia. Achava livros sem gravuras chatos: e os com gravuras também. Caio não tinha conhecimento nenhum sobre nada e achava que existiam poucas diferenças entre uma amora e uma lagarta.
Apesar de eu concordar com a última.
Com o tempo comecei a aceitar a existência de uma pessoa que tinha seu cérebro parado em um estado vegetal, e que não tinha sido diagnosticada assim. Sabia que ele nunca havia chorado, que nunca havia sofrido e que nunca pensou em que aquilo poderia significar para uma pessoa.
Foi em uma noite de quarta-feira, enquanto me revirava sobre os lençóis com insônia que descobri o que sempre quis ser: Um Caio. Eu acho injusto que enquanto eu crie milhões de possibilidades inexistentes em minha cabeça sobre coisas que talvez nem mesmo aconteçam, Caio esteja assistindo TV. Eu acho injusto que enquanto eu chore de soluçar forte o suficiente a achar que meu coração vai ser expelido pra fora do meu corpo, Caio continue assistindo TV. Eu acho injusto que enquanto todos nós gastemos todo o nosso tempo procurando amadurecer de alguma forma: Caio perca a preguiça e vá finalmente ao banheiro.
Eu odeio Caios, odeio os Caios que sentam no fundo, odeio os Caios que não gostam de usar o computador e odeio os Caios que recebem um videogame sem ter passado direto no colégio.
Eu tenho inveja de Caios, Eu queria ser um Caio que não ligasse e um Caio que soltasse gases ao invés de viver.
Falaram-me que não, que é melhor viver. Baseado em que? Prefiro ter nascido Caio, que acha que depois da morte “Um abraço, amigo” e que não haverá mais nada.
Qual é o nome da sua vida?