domingo, 26 de dezembro de 2010

Jazigo Perpetuo

- Você já andou de avestruz?
Eu nunca andei, antes que você espere que eu lhe conte como foi. Mas uma vez, enquanto andava por uma feira de animais me deparei com um homem que oferecia o seu grande e nervoso avestruz pra um passeio com quem lhe oferecesse alguns cruzeiros. Meu avô ofereceu, e logo imediatamente minha irmã e minha prima aceitaram. E eu subi em um: se você estiver interessado em saber. Tive medo e na mesma rapidez que subi, desci.
É obvio que a andança foi assunto do almoço, do jantar e de todas as ocasiões que as pessoas se juntam pra falar como foi o seu dia: Eu não sabia como era andar de avestruz, eu nunca soube, assim como eu não sabia que não podia usar a minha saia indiana com minha camisa vermelha favorita em um enterro, assim como não sabia a aparência de cera que os corpos parecem ter quando estão em um caixão. Não sabia que praticamente tudo tinha um rosto de um cara com 2010 anos de morto estampado na frente, e demorei pra entender que “Jazigo Perpetuo” não era uma pessoa. Se você ignorar o cheiro de mofo e a tristeza das pessoas: um velório é muito engraçado. Eu mesma me peguei rindo algumas vezes, entre tantas lágrimas. Existem milhões de pessoas que nunca te viram e apenas chutam o seu nome entre todos os nomes de seus primos, dizem que você cresceu e que parece com a sua mãe – mesmo sem saber ao certo qual é a sua mãe entre todas as crianças fedorentas que pegou no colo antes mesmo da virada do milênio. Todo mundo carrega um pedaço de pano nas pontas dos dedos para ficar apertando de uma lado pro outro, como se esperasse seu nome ser chamado pra sair de uma sala de espera. Todos também carregam consigo um discurso clichê na ponta da língua, as vezes religioso e as vezes copiado de algum outro enterro que já tenha ido, tem uma hora que ninguém sabe o que falar, ninguém sabe o que explicar às pessoas que ainda choram e então repetem tudo que já haviam dito outrora. Então chega a hora que perguntam o que você está sentindo ou se quer falar algo, e mesmo dizendo que não queria: Eu tinha muito a dizer.
Eu já pensei em suicídio, algumas vezes aliás, e a todos que já dividiram essa vontade comigo: não o faça. Não é como imaginamos, sabe? Não tem o glamour do Kurt e nem a busca de soluções que desejávamos. Não tem nada: é isso.
A morte é como chegar num almoço de frente a sua família e admitir que teve medo, que não gostou do cheiro do animal e que simplesmente: não andou de avestruz. Ninguém chora em um velório porque sente saudade, não deu tempo ainda. Choramos porque sabemos o quanto nunca será tudo que virá, ficamos tristes pelos mesmos motivos que meus pais ficaram ao saber do meu medo:
- Que pena Filha, deveria ter andado.

Todos nós deveriamos ter

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Plano de contingência contra cocos na cabeça.

Lira, então, já que não conseguira convencer ninguém sobre o seu medo, decidiu sair correndo ao invés de achar um bom final para o seu plano de contingência contra cocos na cabeça. Você, certamente, deve estar se perguntando por que Lira não fez um plano de contingência contra o medo ou contra ligações indesejáveis de pessoas chatas. A verdade é que Lira achava que o medo é grande demais para se ter um plano de contingência. Lira, antes de pensar nos cocos, queria um plano que falasse sobre algo maior que uma ervilha e menor que o cabo de vassoura que está na frente de Lira agora. E sobre as ligações indesejáveis, bem, Lira não sabia como escrever “indesejáveis” e achava que precisaria de um documento escrito para garantir um bom plano de contingência – ela certamente estava segura sobre isso.
Duas coisas que você precisa saber para entender o fim da história é que, primeiramente, Lira achava que ervilhas eram coisas muito pequenas, mas talvez você não precise disso para entender o final dessa história – essa é a segunda coisa.
“Usar um chapéu coco para evitar um coco”, era o primeiro item de seu plano de contingência logo antes de “Usar um guarda-chuva de pele de morcego com resistência assegurada para garantir a não-queda de cocos”. Lira não tinha um guarda-chuva de pele de morcego, já que nunca tinha sido apresentada a um morcego e muito menos a um guarda-chuva, e mesmo assim, Lira me disse que os sites de compras daquela época não ofereciam boas promoções que incluíssem guarda-chuvas como este. Lira nunca tinha visto um daquele, mas Lira deixava como segundo item porque leu uma boa entrevista feita por um repórter Guatemalteco que assegurava a resistência. Lira acreditava, afinal Lira nunca conheceu um guatemalteco que mentisse. E se você tem dúvidas sobre Lira conhecer ou não Guatemaltecos, eu garanto: Lira tem vários parentes que moram na capital da Guatemala, inclusive, foram esses mesmos parentes que não acreditaram em Lira quando ela os tentou convencer do seu medo de cocos na cabeça, eles achavam que Lira não tinha nada na cabeça e, portanto não podia temer por ela. Mas eu disse a Lira que os adultos sempre acham que os adolescentes não têm nada na cabeça. Lira não ouviu, já que não conseguira convencer ninguém sobre o seu medo, decidiu sair correndo ao invés de achar um bom final para o seu plano de contingência contra cocos na cabeça.
Você sabia desde o começo o que Lira faria, Lira mandou eu dizer antes para que não acabasse tarde demais com a graça de sua história. Mas foi como eu disse a Lira, na verdade, não como a primeira coisa que disse a Lira, eu não sabia soletrar esta primeira coisa e Lira disse que poderia ser perigoso eu escrever algo que não sei soletrar. Lira disse que hoje em dia perguntam muito como se soletra as coisas.
Mas então, foi como a segunda coisa que disse a Lira: Ninguém se interessaria por uma história dessas.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cor 27

A menina bonita sentada na escada que corta a pequena sala parisiense em dois, com sua caneca favorita sobre a mão, seu batom cor 27, meio rosa avermelhado, sobre os lábios e channel número 5 borrifado duas vezes em seu pescoço. O amor da sua vida já se foi: era casado. Tinha largado o colégio, desistido dos estudos, deixou as amigas de lado e foi simbora com o novo par de meias. Ela recupera o ritmo dos estudos e então consegue realizar o sonho de ir para faculdade que gostaria. O filme acaba com esta menina andando de bicicleta por uma rua grande, que a câmera não acompanha, deixando o telespectador observar ela ficar pequena e ser engolida pelo horizonte. Todos os tipos de nome aparecem na tela, dos mais importantes aos mais inúteis, e depois acordamos de mais um desses sonhos e voltamos para vidas cotidianas.
Cansei disso, de tudo. Também tenho desejos: sei que você não sabia dessa. Eu também acho o garoto do outro lado da rua bonito, principalmente o vizinho com tatuagem da Abbey Road. Também quero estudar muito pra o vestibular e passar em medicina. Isso, também não quero cursar no meu estado. Também chingo, também cuspo, infelizmente, não sei arrotar: mas sinto falta disso. Não tenho casacos de pele, não costumo usar batom, nunca namorei sério e não sei falar nada além de um português bom. Sou incapacitada, então, de ser protagonista do meu único e próprio sonho?
Talvez, seja o casaco grande demais para o corpo e o corpo pequeno demais para a cabeça. Pode ser também a voz rouca, falha demais. Ou a aparência infantil demais. Mas não sou, não sou velha, não sou chata, não sou assexuada, não sou aposentada e não cheguei a menopausa ainda, entende?
Eu posso ser a pessoa a te entregar flores, eu posso escrever os poemas que um dia eu já quis ler. Eu posso dirigir um carro conversível, enquanto você canta de óculos escuros ao meu lado. Eu sei ligar o som ao máximo com uma música animada, só não sei dançar. Sou culpada por isso? Cansei de esperar que a perfeição surja batendo na minha porta, dizendo todas as letras de músicas que um dia quero ouvir de alguém: Eu cantarei as letras agora. Eu vou abraçar quem eu quiser, a hora que eu quiser, do jeito que já esperei tanto. Eu concederei o sorriso mais lindo que já recebi, bem aquele que guardo debaixo do travesseiro. Eu que beijarei no pescoço, eu que usarei meus dedos pra por o seu cabelo atrás da orelha, eu vou convidar pra ver o pôr-do-sol e esperar até ele nascer de novo pra eu dizer que amo.
Não vou deixar que vivam a vida por mim, não quero ser a eterna coadjuvante: Serei protagonista. Com a caneca, com a bicicleta e com todo o amor parisiense que um dia eu já desejei.

domingo, 14 de novembro de 2010

World Apart

Um dia acordei sem vontade de acompanhar o pôr-do-sol sozinha, com umas ligações a chamei pra ir ao terraço da minha casa, onde a gente sempre se encontrava, sabe? Ou naquele nosso barco de Londres, no seu bordel ou no apartamento que ainda estamos pra alugar, quando formos pra Bellas Artes. Qualquer parte de um mundo à parte, da qual os poucos problemas nem existem mesmo, e ficamos lá conversando e ouvindo a boa música cotidiana, rindo e falando besteira não muito pensada.
Daí, enquanto falávamos sobre o próximo ato inconseqüente e divertido que faríamos, ela se levantou e olhou bem nos meus olhos e assim, sem motivo - como a maioria de seus atos - começou a chorar, e a rir ao mesmo tempo. Começou a andar pra trás com o seu tênis favorito, e as mãos nos bolsos da calça jeans, enquanto eu gritava mais do que seguidas vezes o seu nome. Levantei correndo e fiquei paralisada. Meio assustada, meio risonha. Sem saber se ela estava aprontando mais uma: e estava.

Ela andou o suficiente pra chegar bem à beirada do terraço e disse:
- Eu só gosto de sorvete sabor creme, com uvas passas.
Jogou-se de lá em silêncio, com o rosto virado para o seu último pôr-do-sol.
Eu fiquei lá, encarando em silêncio o nada. Sem saber o que fazer com o empréstimo que tomamos pra comprar os engradados, ou o que fazer com todas as nossas fotos e os ingressos das nossas bandas favoritas.
Foram tantos sonhos, tantos futuros, tantas possibilidades, era tanto tudo: Ela só gostava de um único sorvete, o que eu poderia fazer?
Eu considerava muito pouco, antecipar seu fim por uma preferência, já que podia ter preferido a mim, a sua família, a seus amigos, aos seus ídolos: a ela mesma.

Porque, porque você não se prefere?
Se ame, eu te amo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Σοφíα

Desculpa por ter que parecer assim, tenso. É que as coisas são sempre tão engraçadas e tão intensionalmente escritas errado. Mas não é interesse, é só agradecimento.

Obrigada, Sabedoria.

Não é pra você, você.

No começo passou tão devagar, daquele jeito de início de conversa. Tudo com muito pudor, com muita suspeita. Sempre procurando o ponto certo, pra se guiar e acabar se aprofundando em algo com a esperança que a espontaneidade surgisse.
Então levantamos, daquele jeito sem motivo, que ninguém sabe explicar mesmo o porquê de sair andando por um caminho que não tem final. E continuamos ali, falando inicialmente de flores, eu acho. - é claro que não.
Eu não sei claramente, e aposto que ela também não sabe, quando exatamente passamos a falar de sentimentos e a dividir os problemas. Ou quando passamos a ter uma língua própria e uma própria risada. E digo com sinceridade quando digo que não tenho interesse no por que. Eu só sei que foi assim, automático.
Foi quando ela falou sobre estar perdida, que eu resolvi olhar para trás, só então naquele momento, percebi o quão distante estávamos de todo o resto. O quão sozinhas, mas não solitárias, estávamos do mundo.
Não é que eu seja única pra ela - ou ela única pra mim. É só que as horas passaram a fazer greve quando ela não estava. As risadas se economizam quando não divididas com as dela, as loucuras e os momentos pré-agendados de diversão sem consciência só são escolhidos em datas possíveis pra gente. Eu peguei algumas de suas manias, de suas palavras e criei uma série delas juntamente com seus costumes.
Passei a amá-la muito antes de isso dizer, por vergonha? Eu não sei, eu, não, sei, eu não sei, eu não, eu. Sei. Sei que a amo, não é suficiente?
Então parem de suspeitar, de perguntar, de insinuar, de dizer, de argumentar, de profetizar, de decidir. É isso, só isso: Eu a amo muito, muito, muito, muito.


Com todo esse amor que faz a gente digitar mais devagar quando ama.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tennyson

Ainda era só inocência de pós-criancisse imatura. Era só sede de ausência e vontade de comportamentos não controláveis. Procurando aquele tão famoso caminho de gente perdida do qual tanto falo, que às vezes é guiado pela diversão. Eram só luzes dessas que brincam e pintam os ambientes, com um pouco de riso exagerado e esperança.
Era inocência porque não sabíamos que tínhamos passagens compradas pro inferno, não sabíamos que não deixaríamos nossas mentes vagarem pelo acaso. Ela era controlada pela vontade e, principalmente, pelo medo. Não era um inimigo desconhecido, no fundo tremíamos frente a nós mesmos.
Dali a pouco viriam se arrastando os nossos maiores temores, as mais doloridas vertigens de cada uma daquelas almas machucadas. Cada visitante viria preparado pra atingir especificamente o que mais dói, o que derruba. Trazendo como armas nossas antigas lágrimas em formas de veneno.
É nocivo sim, muito perigoso aliás, encarar a realidade. O problema, que vem logo em seguida, é que toda fuga é muito arriscada. Sempre que decidimos fugir, de início, a vontade é mais de fugir de nós mesmos do que de algo que por ventura nos incomoda. Logo, desejamos tanto de forma insegura perder nossa consciência que optamos por sangrar os ouvidos.
O interesse nós serve como pernas, não é verdade? Os nossos olhos são a necessidade, e a mente sempre acaba perdendo posto pra qualquer uma das anteriores.

Nada é mais interessante e necessário pra mim do que dar umas boas risadas acompanhadas de palavras sem sentido nenhum. Com ortografia errada, sem gramática e ática nenhuma. Sem pudor, sem alergia, sem hipocrisia...

Com satisfação.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Última

Esquece tudo, te peço.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Iremos fugir juntos?

Já fazia trinta minutos que ela tinha se sentado ali, havia pego um ônibus lotado, com uma mochila nas costas levando tudo que uma garota levaria se pretendesse nunca mais voltar em casa, com a exceção da saudade.
Ela sabia ler relógios de ponteiro. Teve de aprender quando escolheu ser independente, não é mesmo? A verdade é que mesmo sabendo, ela lia e relia nunca acreditando nela mesma. Ou talvez no erro de outro.
Ela tirou um bilhete amassado do bolso que confirmava "Sexta-Feira, 3 horas" e o nome da rua. Ela olhou pra o pulso mais uma vez, olhou pro horizonte vazio, ele não estava lá, e olhar seguidamente para o relógio não traria ele para seu lado.
Ela o procurava - e talvez até achasse - um pouco dele em todos os rostos, qualquer um poderia ser o dele. Ela nunca tinha o visto, não sabia o seu nome, o seu cheiro, a cor de seus olhos e muito menos o seu signo. Mas ela sabia: Ele era ela; ela era ele.
Então profetizou: Iremos fugir juntos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Passado

Eu já fui morta, pisoteada. Já me chutaram tão repetidas vezes que já estou pronta, apta. Agora posso matar também. Eu devo cuspir, eu devo gritar. Fazer birra quem sabe? Agora eu me toco fogo, me queimo. Fumo, estrago meus pulmões, injeto em minhas veias a minha dor, ou contamino alguém com ela.
É assim que você funciona, então?

domingo, 3 de outubro de 2010

A-do-le-ta. Lepeti, peti-co-lá

Subi em cima de uma árvore e chorei, assim feito criança ou por saudade de assim ser. Havia tirado meus chinelos e as meias erradas e fui andar descalça por toda a terra que já andei antes. E apesar de estar ali, sentia saudade de ali estar. É possível? Sentia saudade de calçar 32, usar um short horrível que comprei na feira por cinco reais, pra economizar na mesada. Saudade da minha barriga enorme e da minha camisa que só a cobria pela metade. Sentei no lugar onde havia quebrado o braço, me sentei no toco de um tronco das maiores árvores que ali já estiveram.
Eu já fui tão pequena, sabe? Sempre inocente, faz parte da infância, eu acreditava que minha mãe sabia de tudo, já que ela havia acertado colocar a perna da boneca no lugar. Achava que não existia gente mais inteligente que meu pai, ele sabia escrever com letra cursiva. Minha visão de mundo era tão pequena que até entendo, agora, o motivo de tantas reviravoltas comigo mesma: Eu cresci, estamos crescendo.
Eu me lembrei da minha galinha que era a mais rápida do mundo e que colocava ovos verdes, eu juro e tenho fotos pra comprovar. Lembrei-me também da manhã que acordei e percebi que em uma única madrugada as formigas levaram todas as folhas da árvore de acerola, ou de quando vi o chão do banheiro cheio de granulado derrubado e descobri que isso não era, eram moscas detetizadas. Das brigas com meus primos, do sorvete, das besteiras, dos bolos de chocolates, das pescarias, das cavalgadas, de querer fugir, de querer ficar.
E não me lembrei de tudo, não é possível. Por sorte, foram poucos os arrependimentos que restaram. Quase nenhuma mágoa ou trauma que sirva como martelo pra minha cabeça hoje em dia.
Eu sei que você pode dizer o mesmo, mas, eu tive a melhor infância de todas. Quando eu era pequena não entendia porque os adultos falavam de ser criança, achava que eles nunca tinham sido. Eles falavam que a infância era mágica e tudo mais, e eu achava bobagem. Vai muito além de mágica, a infância é tudo, é toda nossa formação, é linda, encantadora e hipocritamente madura. Eu queria poder dizer pra alguma criança o quão importante está sendo o minuto que ela está vivendo, mas de nada adiantaria. A Vida não deixaria que ela entendesse ainda.
Eu estou envelhecendo, e você também.
Bem agora, alguém, muito mais velho que nós dois está sentindo falta da nossa idade, e dizendo o quão de sorte temos.

E daqui a algum tempo vou ser eu que dirá, e depois você. Depois seus filhos, seus netos e todos aqueles rostos estranhos que não farão diferença pra você. Não fui a primeira, nem a última e você também não será.

E há quem diga que a Vida é muito boa.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desculpa

Não quer dizer, por ter parado de chover, que eu nunca tenha visto o sol.
Eu tentei - da melhor maneira possível - não quebrar seu coração, eu pensei muitas vezes as melhores palavras pra usar e acessei o máximo da minha sabedoria pra poder ter as pitadas corretas pra essa receita.
É perigoso dizer isso aqui, já que foram poucos os que acabaram sabendo, eu te amei. E ainda amo, só que não desse jeito - apenas de vez em quando. Por muito tempo foi o seu sorriso que preencheu o meu, por muito tempo o seu sabor foi o meu favorito, por muito tempo me imaginei com você ou ao seu lado nas suas fotos mais bonitas. Por muito tempo você dominou todos os espaços vazios da minha casa, era você por todo o tempo, o tempo todo.
Eu quebrei não é mesmo? Mesmo acreditando nunca ser capaz de fazer isso, eu fiz. Tudo que construímos foi usado pra quebrar todo e tudo que lhe desejei – E como. Eu não queria que você se chateasse, entende? Só que não é minha culpa.
Eu sei que fui difícil pra você, eu já passei por isso tudo, mais do que algumas vezes. É sempre assim, a vida te troca de personagem o máximo que puder, por quê? O porquê eu não sei, ou porque ela quer mesmo é foder com sua cara ou ela quer mesmo que você aprenda. E ela - felizmente - fez isso com você também, ela também vai obrigá-la a te dizer tudo mais e também vai te obrigar a ver um coração se partindo por sua causa, ela também vai te passar a perna e te dar uma rasteira. Ela é assim, cruel. Porque a gente só entende assim.
Então eu lhe desejo boa sorte, e bom entendimento. Sabe?
Porque eu sei que você também não dirá da forma correta, e ela também não vai entender nada do que você disse.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vincent


Então, com uma cicatriz na mão ele me deixou. Deixando na minha cabeça as memórias do dia em que ele chegou. Ele é o Medo, Azar e Pesadelo, não havia outra forma dele entrar numa casa se não fosse pedindo ajuda, era ainda pequeno e muito doente. Um ombro luxado, uma pata deslocada, alguns dedos faltando, o femo estraçalhado e o pelo desgastado por uma vida fragmentada. Ele só chorava, passava a noite chorando dentro de uma caixa de sapato, parava assim que eu me encontrava com seus olhos verdes. Ele me olhava e não soltava mais uma nota de dor, se eu desse um passo pra trás – sei disso porque eu já havia testado – ele choraria muito mais alto.
Odeio dependência, odeio estar presa a algo. E além do Medo, Azar e Pesadelo ele me foi à prisão, a reclusão e a dor. Eu, recém saída dos quartos escuros, com os olhos ainda mal acostumados com a clareza novamente vista, tinha que voltar a ficar ali, de novo. Poderia ser ele que não conseguisse mais andar, ou ele que não soubesse pular a caixa. Mas era eu que estava ao seu lado a todo tempo, esperando isso acontecer.
Odeio cantar, e mesmo assim cantei muito ao seu lado – ele só dormia quando ouvisse uma música. E mesmo com todas as falhas, com toda a rouquidão, com todos os calos na garganta que eu tenho, era ele. Só ele que gostava de ouvir aquela voz. Era ele que encostava a cabeça no meu ombro e dormia tranqüilo, uma noite dele mesmo.
Ele não era só o Medo, Azar, Pesadelo, Prisão, Dor, Reclusão e Depressão. Além disso, ele era a sombra e também à noite, carregava ela inteira em seus pelos pretos e alguns fios brancos que representavam as estrelas. Eu sofri, sofri com meu próprio sofrimento em forma de gato bem sobre meu colo. Sofri com sua necessidade de atenção, com sua dependência e com seus lamentos incansáveis.
O tempo, que é a cura de quase de tudo, trouxe com ele a confiança, a amizade, a lealdade, a meiguice e todas as coisas que fizeram dele o meu medo favorito, o meu azar favorito, o meu pesadelo favorito, a minha prisão favorita, a minha dor favorita, a minha reclusão favorita, a minha depressão favorita: Ou os únicos que eu realmente gostasse.
Ele também é Culpado: Por eu ser apaixonada por preto, por esperar sempre de uma sombra que seja a minha, por não ter mais medo de escuro – Ele era as duas coisas.
No final das contas, ele não era meu: ele era eu. Sempre foi. Sempre foi tudo que eu faço, sempre foi tudo que eu penso, sempre foi tudo que eu.
E assim, como criança no levantar da manhã, eu acordei. Não tenho mais medo do escuro, ele se foi. Não tenho mais azar. Não tenho mais dor, não tenho mais pesadelo. Não tem mais noite, não tem mais sombra – A luz da escuridão não foi chegou para me salvar – Agora só tem uma coisa: Saudade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Camarões à grega.

A mesa quase posta, todos os acompanhamentos estavam lá, salada, arroz, feijão, batatas, berinjelas e tudo que um dia eu já gostei. Só faltava mesmo o prato principal que, pelo cheiro, viria do cômodo ao lado. Todo mundo reunido como há muito tempo não estavam, perfumados, sorridentes e com um ar de saudade recém-morta. Lindos copos, linda toalha de mesa e guardanapos bordados a mão que tanto gostava.
A dama que ali estava sentada na ponta da mesa levantou-se e se encaminhou até uma mesa preenchida de porta-retratos. Ali estava um pequeno sino, com um duende entalhado na ponta, sacudiu-o e de lá de dentro da casa, ouvimos uma voz gritar "já vai, senhora!". Todos se voltaram para o corredor e os camarões que dali vinham. Apesar de mortos e cozinhados, pareciam incrivelmente deliciosos. Alguns se ajeitavam na cadeira e outros preparavam os garfos e facas, já outros aproveitavam os segundos que ninguém olhava pra pôr mais sal sobre o feijão.
Eu então abaixei minha cabeça, eu sou alérgica a camarão. Nunca tinha ido aquela casa, era minha primeira vez. Haviam feito todo aquele almoço para mim, me consideravam especial. Eu gostava mesmo de tudo, de todos. Da decoração, do comportamento, das roupas, dos sobrenomes e dos olhares. Estavam todos sempre dispostos para minhas vontades e para minhas argumentações.
Fechei os olhos, coloquei os dedos indicadores sobre as pálpebras, infelizmente, chamando a atenção de todos. Então eles mudaram, deixaram de comemorar e o camarão perdeu seu posto. Agora todos me observavam e me sufocavam de perguntas sobre meu estado.
Está bem? Está tudo bem? Como você está se sentindo. Você não gosta da nossa casa? Você não gosta de nós? Eu repetia, que não era casa em si, que não eram as roupas, os olhares, os porta-retratos ou os sininhos com gnomos nas pontas: Eu não gostava de camarões e não tinha avisado.

Então, passei o resto do tempo fitando o camarão pra saber se, engolia, correndo o risco, dependendo de convenções sociais. Ou então, esperava o momento certo pra avisá-los:

Eu posso morrer desse jeito.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Olá querida,

Perdi lá pelas nove mil e vinte e cinco, trezentos e sessenta e duas vezes que pedi companhia. Parei de contar quantos domingos passei sozinha, parei de usar lágrimas de sobremesa, considerando grandes desejos um bom almoço. Havia cansado de ficar sozinha, de olhar pra trás e não ver ninguém. De contar uma piada e não ouvir nenhuma risada, mesmo que forçada. De danças num canto da sala como uma piriguete, ou de tocar bateria imaginária enquanto canto uma música, que nem mesmo bateria tem e ninguém achar isso estranho. Perdi a conta de quantas vezes me bati em uma mesa, ou um vaso e pedi desculpas a ele. Seria carência? Já gritei tantas onomatopéias logo seguidas de um silêncio tão pesado, às vezes um miado... Quem sabe?
Declarava meu amor a uma pessoa imaginaria, da qual sentia o cheiro, que dançava comigo e que sussurrava coisas no meu ouvido. Eu sempre soube que ela nunca existiu, mas sempre me aproveitei um pouco disso pra não fazer o dever de matemática. Já escrevi cartas para pessoas distantes, já me imaginei na Arábia, no Japão e na frança. Às vezes em um hospital, ou bem de dentro de uma caneta. Achava pessoas que nunca falei maravilhosas, fiquei razoavelmente apaixonada só por fotos . Fazia juras de amor, às vezes despedidas e na maioria das vezes saudades. Saudade mesmo, do que eu nunca havia conhecido. Foi só então, enquanto conversava com a Lua que ela me disse o certo a se fazer, e fiz, entreguei uma garrafa vazia com uma poesia e uma ofensa, dois colheres de sal e um amuleto que me trouxesse sorte. E virá, chegará logo na noite de natal. Eu sei que virá, virá mesmo. Eu juro, tenho certeza disso.


E no fim, é tudo mentira, está bem aqui.
Bem aqui no meu lado.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma dessas cenas eternas.

Eram mais palavras digitadas sem nada por trás dito, tudo sempre igual. Um caderno cada vez mais choroso, pedindo mais atenção a cada novo tic de um relógio feito de caneta desenhado ao pulso. Eu, ali mesma sentada naquela cadeira desconfortável, chorosa como criança boba. Devo admitir que nem toda a culpa daquele choro inocente vinha do que tinha acabado de ler. Hoje foi um dia difícil. Mas, tenho certeza que não teria sido o suficiente pra soluçar tanto. Foi aquele desabafo apaixonadamente desesperado escrito nas melhores e talvez, únicas, palavras possíveis que chocaram-me de tal forma.
Foi poucas as vezes que amei, e menos ainda as que fui amada, apesar do amor ser muito valorizado por mim. Mas, acho que nunca em todos esses anos de observação intensa vi alguém amar assim. Não era obsessão, não era doença, não era dor, não era sexo, não era felicidade e não me perguntei ainda se era um pouco de tristeza, talvez. Mas era, e era muito, amor.
Amor do mais puro, do mais raro, do mais cheiroso. Que me desculpem os que amo e me perdoem os que amo muito: Nunca amei assim.
E as lágrimas me desciam por vários motivos, agradecia por ter aquilo presenciado misturado com a emoção que era transcrita e o pior: Por não ser devidamente valorizado.
Então eu engoli todo o sentimento, todo o riso, todo o ódio, todo o estresse, todo orgulho. Engoli demais: Escorreu pelos olhos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

verde. verdade. vomito. vick.

Corri envergonhada para sofá apenas deixando uma mensagem de espera, joguei as almofadas no rosto e coloquei os meus braços contra meu corpo. Fiquei vendo o máximo que conseguia ficar sem respirar. Iam contando elefantes, alguns mais acelerados, uns que pulei e outros que deixei para trás inexistentes. Meu coração sambava como uma dançarina que não via o carnaval a muito tempo, ou como uma fotógrafa cega que conseguiu rever o mundo outra vez.
Disquei os números muito rápido e nem conferi pra ver se estava certo, a ligação foi pro lugar errado. Desliguei e comecei a rediscar todos os números até chegar ao que eu queria.
-Alô? - A voz certa atendeu
-Oi, aconteceu o que você imaginava.
-E como você está? E como foi tudo? - Implorando por ansiosos detalhes
-Agora não dá pra contar - Falei em tom de segredo, mesmo estando com a casa vazia - Só quero que me conte uma história.
-Que história?
-Qualquer uma
E aos poucos ela foi inventando.
-Só quero que não tenha nada a ver comigo - disse como ultimo pedido.

Essa é a história de uma menina que gosta de ficar sozinha em casa, e ahnn... Ela gosta dos seus amigos também... Ela ama sair com eles e.. Não consegue lembrar-se de todas as letras de música, mas inventa as partes que considera desimportantes. E quase nunca sobra alguma coisa... Hmm. é... Ela gosta de patinar. E uma vez, e uma vez... Quando ela foi patinar, é, ela caiu e morreu.
Não. Não vou acabar ainda.
Ela gosta do vento. Ama quando ele sopra na sua cara e trás com ele uma parte de todos os lugares que ela não conhece. Melhor, que não conhece ainda. Ela tem vontade de andar pelo mundo todo... Come muito chocolate, gosta de sorvete. Ah, é. Quem não gosta? hm... Deixa-meeu ver... Ah, já sei. O seu hobbie favorito é olhar a paisagem pela janela do carro, só que enquanto ouve música. Parece que tudo dança no ritmo de seus fones de ouvido. hahaha, ela se parece comigo - Ela disse sorrindo pelo telefone - E me diga, como você está?
- Eu estou bem, confiante, agora. - Eu disse chorando.
- Ah não, você está chorando?
- Não, juro. - Menti.
- Eu tenho que ir, vou tomar sorvete com meus avôs.

Ah, como eu a amo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Sorvete de Banana

Não é tão fácil como discutir ou aplicar suas opiniões em uma discussão. Aprendi com o tempo, um ótimo professor aliás, que se precisa olhar bem fundo dos olhos de quem precisa ser convencido e colocar as palavras mais fortes em seu ponto mais fraco. E eu já fiz isso muito, convenci muito, prometi muito. Mas, até então, não sabia que tinha falado demais. Nas minhas regras primordiais, de uma pessoa que tem a lua em virgem, jurei que nunca prometeria o que não poderia cumprir e que nunca transformaria minhas vitórias em brigas, em manipulação. Sempre achei que deveria ser coerente com o fazer e o falar.
E desde que me entendo por gente, fui. - Eu me entendo por gente?
Quando eu era criança, das bem pequenas e rechonchudas eu pedi a meus avôs uma máquina de fazer sorvete de uma apresentadora de televisão, que posteriormente considerei idiota. Era cara demais, eu chorei, eles me deram. Perguntaram-me antes se eu sabia fazer o sorvete, se eu sabia montar, se eu queria mesmo e se eu ia mesmo usar. E eu ia, eu tinha plena certeza que eu sabia como agir, que eu sabia como montar, que eu ia tomar muitos sorvetes feitos por mim mesma. Era tudo que eu sempre desejei, mesmo sabendo que não foi de sempre.
Quando ela chegou, a caixa era do meu tamanho. Abri-a e me deparei com milhares de peças pra montar que eu não sabia onde encaixar, nem a metade delas. Com todo meu ego e dificuldades de admitir: pedi ajuda. E apareceram várias, milhares de pessoas que achavam tão fácil montar uma máquina e sorvete infantil! Talvez, eu até mesmo ajudasse, se não fosse minhas próprias dificuldades.
Montamos.
Eu sempre achei que esta experiência de vida, se tratava de um exemplo claro de ter compra consciente, ou de não ser pré-conceituoso ou de sempre ter um guia de mecânica debaixo dos braços. E é, mas só hoje, talvez uns 8 anos depois, eu percebi que se trata do seguinte aprendizado:
-Cuidado com o que você deseja.
Você já deve ter visto isso na sessão da tarde, junto com as pombas brancas, rosas vermelhas e correntes quebradas em mãos negras. É clichê pra mim.

O problema de procurar nos olhos dos que precisam ser convencidos, é que eu preciso ser convencida. Por mim mesma que posso aprender a usar essa máquina de sorvete. Que posso aprender como se monta, sem nem precisar achar algo demais ou de estranho nisso. Eu dizia o tempo todo que sabia o que teria de fazer, eu já disse isso pra você. Não adianta achar meu ponto franco, não tenho palavras fortes para quebrá-lo. Esse é um trabalho que tem que ser seu.

Hoje, sinto desejo de tomar sorvete. Sorvete de banana.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Terra de Gigantes.

Uns pequenos monstros verdes aparecem, pessoas se transformam em gatos, constroem bolsas com sua pele, assisto a um teatro de pulgas, pessoas levam galinhas ao colégio, morro afogada enquanto os olhos de minha amiga tocam violino.
Acordo.
Levanto, procurando com o tato dos dedões do pé a pantufa branca, logo embaixo da cama. Procuro meus óculos na cabeceira ou algo que tenha esquecido ali por cima para matar minha sede. Acabei caindo, não foi unicamente um tropeço ou um pequeno susto. Caí a metros, como se não tivesse mais chão, como se o próprio centro da terra estivesse a minutos de ser apresentado a mim.
Cheguei.
Ainda jogada no chão, sem coragem para abrir os olhos. Levantei-me devagar conferindo se ainda estava tudo no lugar certo e com uma contagem intencionalmente relaxante, abri os olhos.
Ao certo, eu não sabia a principio o que havia acontecido. Das duas uma: Ou eu havia ficado realmente pequena, ou o quarto havia crescido muito rapidamente.
Cresci achando que quartos não cresciam e que adolescentes não diminuíam, mas, quem sabe não era mais um daqueles choques, como quando descobrimos que os pais não plantam sementinhas, que Pipi Meia longa não é o melhor livro do mundo ou que não existe papai Noel?
Apenas me sentei, imaginando como descobriria quem havia mudado primeiramente, eu, ou o quarto? Por meu dinheiro? Não. Por minhas meias? Não. Por minhas roupas? Se um quarto amadurece, o que há dentro dos armários também? Também não sabia responder essa, no mesmo instante me veio à conclusão: Se eu tivesse diminuído as roupas do meu corpo estariam enormes agora. No entanto, estavam do meu tamanho. O quarto que crescera repentinamente.
Não quis levar essa reflexão em diante, pouco me importava o resto: agora estava tudo muito longe do meu alcance.

Devo desculpas a você, traí sua confiança. Eu sabia que ultimamente tenho limitações com a escrita e não consigo chegar nenhum final. Eu tinha absolutamente certeza que teria que dizer essas palavras, mas tanta certeza que até mesmo pensei anteriormente nelas. A verdade é que, talvez você já saiba disso. Só que é novidade pra mim: O mundo é muito grande e eu sou muito pequena.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Edward

O andar dificultado, andar comprido, pesado fui subindo degraus demoramente, com cautela, pensando muito mais em desistir do que em me concentrar ao próximo. Ela não era tão pesada, era uma faca leve, mas agia como uma aliança de compromisso em dedo jovem, cheio de negamentos, cheio de peso, de calor. Passara a última semana inteira fitando ela enquanto tentava escrever, rabiscava o texto com veracidade e com raiva lançava-o para um lixo bem longe. Ela viu tudo, viu meus pensamentos inicias, refletiu em seu lume minha dor, meu choro. Ela viu minhas três desistências e minhas quatro vitórias e meia, ainda não posso contar com essa. Assistiu todos os planos, todo o anseio, mas não viu o motivo. Transformei minhas mãos magras em armas, enfiei nas articulações entre os meus dedos, as lâminas mais afiadas que consegui comprar com o troco do almoço. Perdi os movimentos, alguns dedos e quase todas as unhas que deixara de roer. Construí o que há de mais bizarro, com o maior terror, feito do medo e da covardia que tenho em mim, usei cada elogio que poderia ter-lhe dito misturada com a carência de dor: Minhas mãos agora eram tesouras.
E você aqui, tão perto, a distância de um único beijo: o último. Um abraço apertado, um beijo apenas no pescoço. E mesmo que minimamente falado, um único apenas sussurro de amor rouco, eu não posso. É perto demais, é arriscado demais para seu rosto ou para os meus olhos favoritos. Eu já lhe quis ver morto, já pensei em trocar um dos meus olhos para fechar os seus. Já arquitetei sua morte e já repulsei seu sorriso. Mas, o que é o amor além de ódio e obceção? Agora o amo, e não o posso pelo o que eu mesma construí.
No último degrau, pego a faca: agora é mais tarde.

Ultimamente, tudo que escrevo acaba em morte.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sabe? não. Ninguém sabe, ou saberá o que estou sentindo.
é tudo tão confuso, eu tenho muito o que dizer. só que pouco tempo, pouca oportunidade, pouca saúde e pior: poucas palavras. Não aguento mais a maneira que tudo hoje é feita, a maneira que tudo hoje se encaixa e como as pessoas agem.
Quero mudar tudo, é aquariano demais?
Desculpe-me pelas palavras que aqui não coloco, mas é que dói tanto...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Digno.

Aquele olhar meio perdido e acastanhado, a mão tremendo segurando um documento qualquer de um governo fraco, alguns centavos na mão e pedidos: ajuda. Pedia moedas, centavos, notas. Tudo que, de certa forma, desse esperança de levar sua filha de nove anos de volta ao interior. Eu não tinha moedas no bolso, nem nada relevante para contribuir. Desculpei-me por algo que nem era mesmo minha culpa, era de um país miserável, era culpa da desigualdade social e esses outros termos que ouvimos sobre política. Um amigo ao meu lado, tirou de sua carteira uma nota avermelhada e entregou. Ele, muito agradecido por uma quantia tão grande e por minha atenção na sua história, foi-se caminhando por esses infinitos caminhos de gente perdida.
Os primeiros dias se foram juntos com os segundos, os terceiros e os quartos. Uma semana ou duas depois, sentada num banco de madeira qualquer, aparece os mesmos olhos acastanhados, com a mesma história, repetiu que precisava da mesma quantia que foi dada nas semanas anteriores, cantarolou os mesmos sofrimentos e desejos de um homem com dignidade. Pelo menos ele teve coragem, coragem de usar uma palavra tão pesada como dignidade em sentido tão oposto. Era tudo mentira, juntou o fato de ter unhas sujas, de ter camisa velha e de ter olhos carentes com a vontade dos outros de ter um país melhor. Usou figurino e sujou a imagem de quem realmente precisa, de quem realmente é digno. Fez, com as palavras recheadas de mentira, com que a esperança que parecia tão participativa no seu rosto causasse esperança na gente. Fez com que desejássemos com muita força o reencontro dele com a filha, esperançosos com mudanças e doações: caímos. Não me reconheceu quando foi contar a mentira de novo, percebeu-me boquiaberta e assustada com seus poderes de enganação e seguiu caminho para forjar mais corações dispostos. Gostaria de ter dito tanto, queria ter dito que ele era um canalha, um miserável e que ele nunca ia crescer na vida daquele jeito. Queria ter sido professora e ensinar o pouco que sei pra ele obre respeito, verdade, necessidade. No entanto, ele que me serviu de professor: Aprendi naquele momento que seres humanos não tem limites.

sábado, 5 de junho de 2010

Favorite Nightmare .

Ele me assusta
Ás vezes choro com ele sobre meus pés,
Sobre meu colo.
Muitas vezes chorei por ele também.
Tem a noite desenhada em suas costas
E a terra desenhada em seus olhos.
Mas ninguém admira sua beleza.

Ele é meu melhor pesadelo.
Meu pior pesadelo.
Meu maior pesadelo.
Meu pesadelo favorito.

Toda madrugada divido o escuro
Com seus olhos verdes dilatados.
Divido gritos e o medo também.
Mas que posso fazer, se é meu pesadelo favorito?
Ele é meu melhor pesadelo.
Meu pior pesadelo.
Meu maior pesadelo.
Meu pesadelo favorito.

Que posso fazer se amo os gritos que me faz dar?
Meu pesadelo favorito.
Meu pesadelo favorito.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Borboletas de barriga.

Aquele cheiro de flores de laranjeira dançando pelos arredores do meu nariz e minha palma quente da xícara aferventada que eu segurava na mão direita. Uns docinhos de goiaba e aquelas toalhas de mesa dos meus filmes franceses favoritos. Acabou o chá e já tinha enjoado do sabor doce e avermelhado grudando em minha boca. Olhei para a garçonete, jovem, bonita, sorriso agradável, olhos atentos e dentes escurecidos. Seu vício? Café.
- Um cappuccino, por favor?
- Creme e Açúcar? - Ela deu um sorriso meio torto e sem jeito, por ter achado engraçado eu abandonar meu vício e experimentar o dela.
- Com amor. - Eu disse. Não havia lá muitos motivos no mundo pra eu abandonar a xícara cotidiana de chá, se não fosse por estar doce demais. No entanto, lá me vem ela com creme e açúcar. Se precisar de algo pra me adoçar, será o amor, já não solto suspiros ou sorrio com o vazio, canto mentalmente e danço valsa na hora do banho. Não olho pra janela sem fim ou desenho corações nas bordinhas esquecidas pelos professores.
- Quero meu café com bastante amor - eu repeti enfatizando.
Ela me fitou continuamente por uns minutos e depois de um tempo saiu remexendo as mais diversas gavetas daquela pequena cafeteria beira-de-esquina. Nas primeiras, nas segundas e até mesmo nas mais ignoradas últimas. Colocou a mão profunda nos cantos e por fim, infeliz, me disse:
- O amor acabou.
Levantei-me deixando algumas moedas esquecidas em fundos de bolsos sobre o balcão, sem dizer nem uma palavra, pelo menos, paguei os dez por cento. Já que não era culpa daquela bela moça se perdemos e deixamos o amor de lado. Não é culpa daquela bela moça que o amor nem é mais tão pedido no cardápio. O mundo prefere os fast-foods, rápido, práticos, baratos e em quantidades. Aquele arrepio por um aperto de mão e as borboletas na barriga quando observamos a pessoa amada, aquele tropeço atrapalhado na hora séria e as lágrimas caídas das horas alegres só são vistas em observatórios científicos e em alguns filmes velhos e esquecidos da sessão da tarde.
No dia 12 sentarei em qualquer lugar aleatório e comemorarei sozinha, parabéns juventude atual: Vocês assassinaram o amor.

terça-feira, 18 de maio de 2010

473 páginas.

Cansei mesmo de estar no sofá escolhendo sempre as palavras certas pra poder falar com você, como se não pudesse escolher as erradas. Cansei de ter que parecer sempre correta e reta, sem linhas tortas ou opções. Não vou mais passar minhas tardes de domingo procurando em todas as 473 páginas do dicionário a descrição do que eu sinto. Agora mesmo eu só quero correr, bem rápido, correr, correr e correr. Sem rumo, não tenho tempo pra pensar em um. Quero ir embora muito rápido, mas sem as ligações de aviso ou as cartas de saudades. Não quero só fugir, quero desaparecer, sumir. Cansei de tudo, é verdade, e cansei das verdades também. Agora prefiro mentiras a brigas, mesmo sendo contraditória ao dizer isso. Cansei de todas as mensuras obrigatórias, dos desentendimentos pela temperatura do ar-condicionado ou pelo canal da televisão. Mas nunca vou me cansar de correr, mesmo odiando educação física.
Não vou me suar também, correrei sempre acompanhada da tristeza, que deixa os ombros frios e das lágrimas que umedecem o rosto.
A causa disso tudo? Correria, o tempo anda correndo e com ele, eu correrei. Não respiro mais com calma, levo sempre o mundo ofegante para dentro de meus pulmões. O afeto me ocupa, como demonstrarei carinho se tenho que cumprir com meus deveres, escovar 21 vezes os dentes e esquentar a água do café?
Se a vida propõe uma corrida, eu nego. Mas é necessário e desta vez eu aceitei, mesmo não tendo habilidade ou o tênis indicado.


Ei, você. Me diz quanto tempo falta pra acabar a batéria das pilhas do tempo?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Meia sozinha do sapato velho.

Gargalhadas são bem suculentas, disso não posso negar. No entanto, os que me conhecem sabem, por eu gostar de deixar claro mesmo nos mínimos desabafos que minha preferência são os sorrisos tortos. Gosto tanto deles que se não fossem tão raros e caros, se não fossem tão difíceis, eu viajaria o mundo em busca de todos os sorrisos cabisbaixos existentes.
Já procurei muito o impossível, mergulhei nas utopias e me alimentava de sonhos aquarianos, que hoje deles eu faço dieta. Gosto mesmo agora é de mim, não exclusivamente. Só quero me alimentar dos meus sorrisos e de mais alguns poucos que me importam. Monólogos ou músicas solos são tão admiráveis quanto pessoas solitárias, talvez eu seja mesmo como aquela meia velha que fica no fundo da gaveta, sem muita utilidade. Hoje, neste momento narcisista, tenho clara certeza de que as melhores meias são as que não tem par. E como meia sozinha observo os detalhes de um braço nu, antes preenchido de palavras doces e esperançosas, de palavras alegres e desabrigadas, sentimentos definitivamente perdidos. Leio, re-leio e lerei mais 64 vezes as palavras que agora foram lavadas com sabão e apagadas. Palavras que não eram pra ser lidas, que não deveriam ter sido escritas para manter meu coração saudável. Neste momento, como meia sozinha eu delicadamente te pergunto:
Para onde vão os pares de meias perdidos?

Preciso de um rumo na minha vida.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Carta de desculpas.

Escondo-me enquanto as palavras correm a minha volta, perdida estou. Doente, seca e quase morta. Semana corrida, computador quebrado, prova de matemática e doenças me limitam a uma passagem rápida e um grito de socorro por aqui.

Esperem, caro leitores. Por tempos melhores que logo viram.


Garanto-lhe.

domingo, 11 de abril de 2010

Azaléias.

Já mudei meu sobrenome, meus costumes. Já rejeitei meus abraços e meu solitário coração. Nem mesmo carnalmente cercada de pessoas estou, estamos todos sempre sozinhos. A solidão já não me aparece como mulher encantada, nem mesmo como bela dançarina. Agora ela é fantasma, tem lápis borrados jogados pelo rosto e camisa larga demais para seu corpo magro, está sempre chorando e se ofendendo. Já não quer mais abraços e não me propõe mais convites. Quem era eu antes ficcialmente sozinha, agora estou realmente solitária.
A fome já não mais tenho, ambições vão saindo finamente sem que eu perceba, desejos são despedaçados e a minha energia decaiu. O que me resta são braços sem força para serem levantados, ou até mesmo aqueles nós na garganta que nunca serão desamarrados. Um sorriso cabisbaixo surge no canto da minha boca após ter fitado algumas ligações perdidas em meu celular.
-Alguém me procura - eu penso.
Vejo um número desconhecido, de um DDD distante e quase pulo de alegria ao pensar em você, é. Imaginar seu rosto, sua cor de pele e quase acreditar num suspiro de alegria que você existe. Que não está apenas eternamente em meus sonhos como estará eternamente ao meu lado. Senti seu abraço, juro. Senti sua textura de casca de morango e até a brisa que sopra dos seus sussurros. Demorei um tempo pensando em ti, como seria seu cafuné ou seus beijos de pescoço. Corajosa, apertei o botão.
-Olá?
-Olá
-Este número me ligou a pouco, quem gostaria? – eu disse.
-Oh querida, perdão. Devo ter discado o número errado.
Vi a frustração incorporada rir de mim a minha frente, ela sorria tão sarcasticamente que chorei. Então, as lágrimas me voltaram. Saí do meu quarto e me jogaria fora se não acabasse observada por olhos curiosos, e sussurros de inferioridade. Coitada, inacreditável, triste. Diriam. Não quero ouvir isso, mesmo quando já não possa ouvir.
Levantei-me ainda ouvindo o riso da frustração no meu quarto, pulando de tanto gargalhar. Com alguns passos incertos cheguei à varanda e encontrei um bilhete "P, lembre-se de regar minhas azaléias". Sentei-me na poltrona colocando-as sobre meu colo.
Posso garantir que as reguei assim como toda noite as rego, mas desta vez: com lágrimas.

Pois, pensei que fosse você.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

sangue, suor e lágrimas.

- Não. - Foi o que foi solto da sua boca. Seus olhos pediam para acreditarmos. Eu, grande e experiente leitora de olhos, acreditei fielmente em cada letra dita. Quase duvidei quando negou o que disse posteriormente e por fim reinou o sim.
Ele já não poderia mais sorrir, seus lábios ressecados sangrariam se isto fizesse. Já não tinha motivos então pra viver. Alguns cigarros amassados no bolso, uns goles de alguma bebida de grande teor alcoólico e uma esperança de dias melhores.
Seria bem melhor se o vilão fosse um outro alguém, do qual o visse como bonzinho e que a apartir dele o público aplaudisse a sua vitória. Só que esse outro alguém era ele mesmo, e agora, a briga era pra ver sua morte. Tardes vazias, violentas e pesadas. Onde o peso da consciência faz com que fiquemos na cama. Este era o seu silêncio, matando o horizonte.
Nunca gostei tanto de histórias de amor bem sucedidas, e talvez, por isso já não tenha me aproximado tanto dessa até chegar bem pertinho do gosto do fim. Saboreio histórias que envolvem sangue, suor e lágrimas. E só disponibilizo minha mão pra ajudar as pessoas que já estão na beira do abismo. Chegou minha hora afinal de demonstrar minha compaixão por começo do embalo dessa carroça.
- Mas eu me arrependo - ele continuou
Então estava certa de que era possível perdoá-lo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

assim minha mãe espera .

Quero um filho que não coma carne vermelha, chupe gelo, cheire a menta, leitura freqüente, seja gay, indie e claro, que seja viciado em tic-tac sabor laranja. Mesmo planejando não ter nenhum, se tiver, não irei exigir nada disso do meu filho. Somente que troque algumas vezes de cueca, goste de chá pela tarde e seja um bom ouvinte. Odeio exigências mesmo cobrando o tempo todo das pessoas coisas das quais tenho em sobra, sei que o lado mais pesado da balança do relacionamento é o meu. Já que me engordo de obrigações desabrigadas. Não nasci pra ser acompanhada de algarismos romanos, véus de noivas ou morar na Londres vitoriana. Vejo-me como aquelas trapaceiras que contam dinheiro lambendo a ponta dos dedos, com seus palitos na boca. Habitante de becos imundos. Um pouco da coragem dos suicidas por boas causas e até sinto um prazer por capas de super-heróis. Talvez não seja nada disso, mesmo. Ou talvez ser alguma coisa parecida com estas seja imbecilidade, quem sabe não sou apenas uma menina comum, com pensamentos comuns que vai se formar em Geometria Analítica, Algebra Linear ou Contabilidades? Com um marido fixo, IPTU em dia e com um sobrenome adorável?
Assim minha mãe espera.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

cantiga dos ventos.

Seus cabelos poderiam ter fios de ouro, ou seus olhos serem feitos de diamantes. Porém, ainda assim sua mente valeria imensamente mais. No entanto, com uma quantidade de motivos pra ser feliz, que não se pode contar nos dedos, ela estava sentada. No chão, de cabeça abaixada e mãos sobre as pernas. A sua frente, uma velha de fios brancos e cara enrugada como uma uva passada da validade, roupas rasgadas e sujas. Rosto marcado pelo peso da idade e valendo tão pouco quanto uma latrina. Fitando a menina dos olhos de diamante a sua frente.
Usando a curiosidade, sentei-me ao lado daquele par de figuras e os encarei em silêncio, por muito tempo. Não teve muitas oscilações de humor ou qualquer alteração nas suas posições. As duas poderiam ou deveriam ter passado a eternidade juntas ali. Uma de frente pra outra sem, provavelmente, ter dito uma palavra apenas pra outra. Decidi então falar, pousei uma de minhas mãos no ombro da mais jovem e disse:
-Já faz quanto tempo que está aqui em silêncio junto a ela? – Parecia então que só agora ela havia me notado e vagarosamente foi juntando seus olhos brilhantes aos meus. Depois de me olhar por completa olhou ao redor procurando alguma coisa.
-Ela? Ela quem? – Disse por fim confusa.
A Julgando muito distraída imaginei que ainda não tinha visto a senhora amarrada em depressão a sua frente. E que tão pouco se importava com ela. Apontei pra senhora e disse:
-Esta! A sua frente. – Seguindo meu dedo apontado ela parou para observar fazendo uma cara de ainda mais confusa. Segui pra ver o que olhava e dei de cara com meu próprio reflexo apontando pra mim. Agora me tornei mais confusa que ela.
-Lhe apresento a um espelho – disse enfim revirando os olhos brilhantes.

Já cantei aos ventos meus ódios pelos seres humanos, desilusões e desaprovações. Porém, hoje já amadurecida percebo que se trata de uma eterna admiração ou quem sabe amor por esse comportamento interessante. Tenho esse acontecimento e outros guardados embaixo do meu travesseiro, que contam cada dia mais a minha inusitada surpresa por atos tão mortais. Como pode uma pessoa em potencial ter uma visão tão errada de si mesmo? Se ver como o próprio ódio incorporado quando, se parasse um pouco sua impaciência e calasse seu desdém provaria a o gosto da cor do mundo!
Dedicado a você, menina.
(:

quinta-feira, 1 de abril de 2010

prostituição mental .

Minhas calças ficavam caídas aparecendo à beira de minhas roupas de baixo, por ter um grande peso em meus bolsos. Uma arma e alguns telefones anotados que nem mesmo lembro-me de quem são. Acelerei meu passo curvando a esquina a minha volta. E avistei acolá um sujeito de paletó-café encostado na esquina mexendo em algum aparelho eletrônico que não me servia para nenhuma utilidade. Era quem eu procurava, quem tinha-me algo de interessante.
Cheguei mais perto colocando agilmente minhas mãos aos bolsos para tirar o revolver que ali estava e apontá-lo em meio à testa do semi-desconhecido.
- Não tenho dinheiro, tenho apenas isso. - Apontando pra algo de ultima linha que pouco me importava saber o que era.
- Isso não me interessa. - disse.
- O que quer de mim?
Foi à hora que passei graça e perfume nas minhas palavras mais bem escolhidas e disse polidamente o que me fez de forma tão agressiva ir à noite naquela esquina:
- Poderia pedir seu instrumento, mas este pra mim é insignificante. Poderia pedir sua carteira, ou seu medo. Porém não preciso de carteira e nem mesmo de medo, que já tenho muito.
- Então, o que quer de mim? - repetiu o sujeito.
- Quero de você o que quero de todos os humanos, quero de você o que o mundo me tem como divida, quero saber a verdade sobre você, sobre todos e sobre mim. - respirei fundo e disse - O que está pensando agora?

-


Sim, pagaria muito caro - até mesmo o preço da minha sanidade que não tenho - pra poder ler, e ter, o pensamento de certas pessoas. Tem certas lógicas e temperamentos que custam mais do que uma casa recheada de m² ou de uma lancha com itens de lazer. Necessito tanto dos impulsos nervosos alheios que seria capaz de assaltar seus pensamentos com uma arma, serei capaz. Existe prostituição de corpo, mas a prostituição mental é tão fútil, pessoas se vendendo por etiquetas e símbolos que tão pouco significam além de status que destes não daria três cruzeiros apenas para ter conhecimento, aliás, daria o dobro pra essas mentes que cheiram a gloss fiquem bem caladas em seus devidos lugares.

E você, quanto me oferece por seu pensamento atual?

quarta-feira, 31 de março de 2010

Pssss...Silêncio!

Silêncio parece ser a única possibilidade a ser escrita. Faltam-me palavras mesmo tendo uma grande quantidade delas guardadas em minha gaveta. Já não sei mais usá-las e tão pouco sei entendê-las. Atraio alguns olhares curiosos e algumas bocas insatisfeitas: Não sei satisfazer sua fome de energia. Toda minha alma e meus cantarolos foram esgotados e mastigados pelo interesse alheio.
Agora conto com minhas próprias mãos, com meus próprios pés, meus próprios olhos e meus únicos ouvidos. Deve saber que é difícil contar consigo mesma quando não acredita em uma única palavra que diga.
Minhas fantasias de infância não cabem mais em mim, depois da serpente e sua maçã, elas precisam de ajustes igual a minha cabeça, de uma agulha afiada e uma linha avermelhada. Vestidos, vestidos e vestidos jogados em um relicário abandonado.
Depoimentos de uma sepultura, de uma ex-morta, de uma renascente. Meus olhos já foram sepultados junto com minha boca e meus ouvidos, mas agora, cansei. E de tempo que eles já estão descosturados e soltos pra ofender e ser ofendido, pra elogiar e ser elogiado e perceber cada ato que não corresponda a ausência de barulho.
Cuspa na minha cara, bata no meu rosto, chute-me ou espalhe seus gritos por meus ouvidos. Mas, nunca, fique em silêncio. Odeio seu silêncio, porque consegue ficar em segurança nele. Enquanto a minha segurança são minhas lágrimas, que de nada servem. Grite, vai, chore, coma, alimente-se, minta, falsifique, prove que você também é humano e que ainda existe em você alguma quantidade de batimentos dentro do seu coração. Vivo uma maré cheia de silêncio agora. Acho que uma página vazia não diria o que eu quero dizer. Porque ao contrário do que você pensa, o silêncio é ensurdecedor.

sábado, 27 de março de 2010

Insônia e suas moscas I

Ficar com tédio pela tarde, é um saco, lógico. Mas decidir dormir pra não pensar desencadeia uma série de proporções graves a noite, como uma das piores coisas que a mente nos proporciona: insônia.
é um tédio, pela noite! Onde você se dispõe a ver vultos, demônios, sussurros, danças, músicas e todos os tipos de coisas estranhas que você não veria a luz do sol.
Da um peso nas pálpebras, e seus olhos parecem tão quentes, as lâmpadas de minhas idéias são infestadas por moscas, que ficam voando em torno de mim.
-Ei, saiam daqui suas moscas idiotas - eu disse.
-VVVVVVVVVVVV
-Qual é o seu nome? - insistir - V?
-Haha, parece até que você não sabe! - disse à mosca que reviraria os olhos se tivesse apenas um par deles.
Cansei das moscas e fiquem pensando nas minhas idéias, nos meus últimos dias, na minha família, na minha irmã que mora longe, na minha avó que não vejo muito, nos meus amigos e demorou muito mais do que deveria porque as moscas voavam pra cima de mim como se eu fosse um banquete de comida recém-preparada.
-O que fazem aqui?
-Estamos aqui pra nos alimentar da sua energia - disse a mosca apontando pra lâmpada sobre minha cabeça - Temos medo do escuro.
-Porque vocês falam?
-Porque você fala? - disse uma mosca rindo e olhando pra procurar a aprovação com a risada dos amigos.
-Vocês sempre falam? É que nunca tinha sido apresentada a uma mosca que falava.
-Não falamos com qualquer um, com qualquer estranho. E não somos moscas quaisquer, você nos conhece. Apenas não lembra.
-Já disse, nunca fui apresentada a nenhuma mosca, lógico que me lembraria se isso acontecesse.
As moscas começaram a rir da minha cara, tentavam falar alguma coisa mas, caiam na risada antes de terminar qualquer frase completa. Dei uma risada da situação, elas batiam nos joelhos e tapavam a boca com a mão ao mesmo tempo, pela grande quantidade de braços. Então uma pegou ar e chamou a concentração e silêncio de todos dizendo:
-Não somos moscas, colega.
Pronto, agora tinha virado um carnaval das pseudo-moscas que dançavam de tanto rir, pulavam umas nos colos das outras de tanta felicidade e riso. Foi muito contagiante e se não estivesse exausta, riria juntamente.
-Claro que são moscas, olhe seus corpos gordinhos e asas pequenas demais, centenas de olhos e mais de um par de braços!
Uma mosca mais idosa, de barba branca que aparentemente não achou graça de nada aquilo que estava acontecendo disse:
-Isto é a forma física que sua mente se apropria de nós.

[LEIA " INSÔNIA E SUAS MOSCAS II" ABAIXO]

Insônia e suas moscas II

[...]
- Ah, agora já ficou um pouco mais claro pra mim. - A lâmpada sobre minha cabeça pareceu ficar muito mais luminosa e até acender uma parte do quarto foi possível. As pseudo-moscas foram todas para lá.
- E o que são então? Quais são seus nomes?
A mosca que pareceu ser a que mais falou pequena e gordinha, com a barba mal feita e vestida como cantor de música brega disse:
- Meu nome é Culpa este ao meu lado é Ciúme. Ali nos observando no canto é a Inveja, o senhor que falou contigo é a Hipocrisia. Aquelas três sentadas uma do lado da outra é a Falsidade, uma delas é a Falsidade as outras duas são as irmãs Ilusões, Aquele casal dançando é a Mentira e o Arrependimento.
-E porque vocês me visitaram hoje à noite?
-Você que nos fez aparecer!
Pensei em perguntar onde estava a tristeza, ou a solidão, no entanto sei que não as vejo como moscas. Então disse:
-A felicidade, onde está?
E todos em coro começaram a dançar e cantar uma frase que dizia assim:
-Esta você colocou pra dormir, essa do sono não quer acordar. Estamos cansados de tanto trabalho! Também queremos experimentar! Esta você colocou pra dormir, essa do sono não quer acordar. Estamos cansados de tanto trabalho! Também queremos experimentar!
O Drama se esbaldava e a Necessidade de Atenção gritava:
- De novo pessoal!
Abaixei meus olhos, não conseguia dormir com todas aquelas moscas cantando, queria as moscas caladas da minha fazenda de novo. Deitei-me, passei o lençol sobre meu corpo e só acordei essa manhã pra citar essas palavras.


sexta-feira, 26 de março de 2010

decomposição.

Agora, me deito cansada de mais um dia exaustivos. Jogo-me na cama e sinto finalmente meus músculos relaxarem. Minha mente é solta e livre pra pensar no que quiser, mas, ela resolve pensar nestas palavras a serem escritas.
O vento frio, que raramente bate, causa em mim um arrepio. A preguiça, idosa que é. Não quis mover seus ossos que rangem e me prendeu ali na cama, nem mesmo fechar a janela fechei. O vento revoltado começou então a levar pequenos pedaços de mim com ele. Levou minha hipocrisia, meus fios de cabelo e uns 17 cruzeiros que estavam no meu bolso.
Não balancei nem um dedo mindinho pra impedi-lo de fazer isto, tudo aquilo faria falta sim, mas o sono era tanto que minhas pupilas começaram a pesar muito e minha boca se abriu em bocejo. Só queria descansar, decantar. Estava degradando, estou em decomposição, desaprovação. Parei e deixei o vento levar minhas impurezas, arrancar cenas tristes dos meus olhos, gritos pesados de meus ouvidos e eliminar qualquer sujeira vivenciada.
Está é a passagem comprada pra mais um domingo de tédio, crises existências, bipolaridade e sono.

Muito sono.

Infortúnios.

Agora só restam lembranças e poucas fotos que restaram, lembranças de gritos cortantes e do cheiro incansável de gasolina. Lembro dos corpos mortos que permaneceram finalmente em silêncio, jogados ao desdém.
Sim, me lembro tanto de cada detalhe, mais do que um homem de 83 anos à beira da morte normalmente lembraria. Lembro-me do dia que percebi a realidade da guerra e seus infortúnios.
- Soldado Paul - disse em tom firme - peço-lhe um favor, caro norte-americano.
- Sim, senhor. - eu disse em devoção.
- Uma pessoa deve ser executada pelo roubo que cometeu ao estoque de comida.
- Aonde, senhor?
- Sala 3 - disse encerrando a conversa como um ponto final.
Não era a primeira vez que ia de encontro à morte, em um lugar como aquele, a morte se torna uma amiga frequentemente vista e já me era tão comum que nem mesmo arrepios me causavam.
Abro a porta e vejo, então, uma mulher morena, parda, com o rosto cheio de hematomas, vestimentas degradadas. No canto direito da sala, estava um menino de uns oito anos, com roupas igualmente sujas e lascadas. Seu corpo era tão magro que seus tornozelos deveriam ser do tamanho de meus pulsos.
Na mesa onde a mulher estava algemada, estava uma rosa tão vermelha igualmente a que está do meu lado agora. Do lado da rosa, a um palmo de distância estava um revolver com capa de couro que usaria. E no meu peito, dor.
De imediato, neguei. Nunca poderia matar uma mãe na frente de seu filho, que provavelmente já deveria estar com emocional abalado por ser tão jovem em uma situação como aquela. No entanto, tinha de agir com as regras, quando aceitei esse emprego, aceitei agir dentro das leis que me eram ordenadas. Hoje entendo que não fiz a escolha certa e de certa forma até me arrependo, poderia ter seguido como exemplo a minha própria mãe e o açucar de minha infância.
Começa em mim uma guerra psicológica, ética versus moral. Segurei a arma, tanto silêncio, quis dizer algo, pedir desculpas. Pedir desculpas pelo quê? A culpa era minha e não poderia des-culpá-la. Então resumi minha inferioridade para apenas quatro palavras que, mas tarde descobri que nada significaria:
- Que Deus te abençoe.
Seu filho correu até seu corpo e o abraçou com braços finos observando os olhos abertos de sua mãe, tinha sido um tiro no peito e ela nem durou o bastante pra trocar alguns olhares com ele. O coitado chorava tanto, soluçava tanto que quis ser como um coleguinha de futebol e abraçá-lo dizendo que tudo ficaria bem, mas não, eu era apenas um soldado sem valor, numa guerra sem valor cometendo erros que jamais seriam acertados.
Não preciso lhe dizer que abandonei o emprego, já não era um soldado e suas ordens: Era uma criança acompanhada de suas lágrimas.

drama drama drama, URGH.

Um abraço molhado se é que posso descrever assim, não molhado por ter água sobre o nosso corpo. Mas porque ela estava sendo, pra mim, tão volátil quanto a água. Não podia abraça-lá nem apertar suas mãos porque ela fogia de meus dedos e de meus braços, evaporava igualmente diante de meus olhos quentes.
Logo percebi que sumira bem a frente dos meus olhos e tentei em braçadas desesperadas prendê-la. Mas, e se não quisesse? Não tinha o direito de decidir, isso já não pertencia a mim e ela tão pouco nunca pertenceu a ninguém, lógico.
Com minha grande ignorância em anatomia, não sei que órgão fica entre meus peitos, ou se existe algum. Mas em mim, sua dor corresponde a um emocional ruim e ele doía como nunca agora.
Fiquei fitando seu corpo se tranformando em gotas e indo contra o vento, no meu rosto, borrifando pequenas gotas de água que se misturavam a umidade de minhas respectivas lágrimas.
Ai...Como queria abraçá-la e sentir sua carne e seu osso, contra meu abraço e ter certeza que estava ali e que eu estava ali pra ela. Não, deve imaginar que não houve essa oportunidade, nem tive a possibilidade de ouvi-lá por exemplo, porque tudo se transformara em silêncio, quando tudo o que queria era barulho de sua voz.
Chorava calada, muda de olhos bem fechados. Já não me restava voz nas cordas. Estava tudo molhado, tudo errado, encharcado e tudo que eu fazia? Chorar, mesmo sabendo que só aumentaria a grande quantidade de liquido dali.
Pano, balde ou geladeira?

quinta-feira, 25 de março de 2010

6:20

Evitava ao máximo mover meus olhos para trás, buscava farsas pra olhar a frente e manter minha irís bem frontal, pra evitar qualquer evidência de que apenas-somente pensei ou tive curiosidade de revirar meus olhos um só minuto. Já nada mais era interessante, tudo agora era muito fraco e águado comparado ao que tinha acabado de quase-ver, nada poderia comprar minha fixação no mundo, quando o mundo parecia estar bem atrás de mim.
Logo, achei que fugir um pouquinho das minhas mentiras não me faria falta, e lá estava eu me enganando mais uma vez. Jurei pra mim que observar em um tempo superior a alguns segundos seria terminantemente proibido.
No entanto,
não sabia que permaneceria a eternidade costurada em seus lábios, em seus olhos. Como pude não perceber que já tinha me enganado tantas vezes na mesma situação e que pra mim, mas uma não seria nada? Quebrei a minha própria promessa e apartir dali não teria mais confiança em mim, mergulhara em um mar de mentiras. Poderia me sentir nojenta, cruel, burra, falsa, mentirosa por esses motivos se todas as minhas celulas não tivessem ocupadas naquele momento, sentindo idem, só que por estar tão perto da perfeição.
Desapreendi a corar, cantar, dançar e todas essas coisas que terminam com AR, este que também perdi, desaprendi o que nem tinha pra aprender ainda.
Como pedra enferrujada permaneci ali, petrificada, por mim eu passaria o infinito a olhando, relutara com meus antigos desejos e pediria até pra deus, se fosse necessário, pra viver eternamente só pra saber que estaria em um mundo da qual existe. Só que aí está, não estava em sintonia com este e acordei assim que, no sonho, iria andando para seu lado.
-6hrs20min, acorde é hora da escola.

terça-feira, 23 de março de 2010

A ilusão das terças-feiras.

Em afirmações rasas como uma piscina clara, é fácil perceber que admiro a falsidade diferente dos demais, que a odeiam. Eu gosto tanto de coisas que agem como outras, que me faz comprovar as minhas suspeitas sobre os humanos serem adaptáveis a quaisquer situação proporcionada. Porém, apesar de achar isso, duvido que alguém goste de grandes mudanças. Não aquelas de corte de cabelo, de lápis ou de brinco. Aquelas grandes, como fins de relacionamento, reclusões e fim de sorvete. Duvido que alguém aprecie isso, porque eu odeio situações incovenientes e sem beneficio da dúvida ou da negação.
Mas não vou mudar o rumo do que planejara escrever. Uma verdade que deveria ser contada a tempo, vista dos meus olhos. Essa falsidade se repete toda semana, sabotando cada vez mais nossas mentes:
A ilusão das terças-feiras.
As minhas quartas são felizes e sociavéis, tão pouco entro no computador para me alimentar de conversações porque não as necessito no final do dia. Quintas são más alunas, nervosas e inseguras, sempre chego mal pra prova do dia seguinte. Sextas agem como crianças e ignoram o fato de ter ido mal na prova e saem sorridentes pra uma tarde tranquila e de terapia. Sábados são junkies, divertidos, quentes, agitados e dançarinos mas nem sempre, as vezes são bem familiares. Domingos, são depressivos, cansados, duvidosos e isso dá uma boa combinação de crises de identidade. As segundas são descompromissadas, são os dias que levo anotações por ter ficado com os pés aparentemente presos o dia de domingo todo.
E aí está: As terça-feiras sempre agem imitando algum dia, nunca são originais. Fico imaginando como seria uma verdadeira terça-feira, porque nunca fui apresentada a nenhuma. Todas são falsas. E hoje, esta terça-feira escolheu logo ser um domingo!
Aquele clima frio, dia escuro como as cortinas fechadas pra fingir que a noite de segunda já está chegando, e eu, derrotada, dormi em quase todas as aulas depois de descobrir que tive uma nota péssima em matemática. Vazia, meio nuvem, eu voava quando uma brisa fria soprava e de tão translúcida que estava ninguém notava a minha presença, estava somente disolvendo como um comprimido de vitamina-c.
E essa terça-feira idiota me deixou assim: chateada, rabugenta, careta, presa, nervosa, cansada, vazia, chorosa, inresponsável, grossa, auto-discordante. E o remédio foi pegar alguns comprimidos pra gripe e tomá-los pra usar como soníferos, e graças aos céus eu dormi e só acordei pra depor essas palavras.

Aviso inútil. ¬¬

Tenho que parar de fazer isto, mil postagens no mesmo dia. Agora são mais ou menos 7:42 da manhã de uma terça feira, deveria estar no colégio. Mas este sempre alaga em dias chuvosos, dias raros em minha cidade, e hoje só irei bem mais tarde o que me dá um tempo entre minha mãe acordar e me dá uma bronca e minha carona chegar. Porque mesmo estou falando isso?




Obs: Porfavor, se alguém lê meus textos (e pequena notas no fim do texto) pode me avisar? As vezes fico pensando a utilidade de colocar tudo aqui por nada. Mesmo sabendo que isso me ajuda tanto quanto uma caneta e papel ajudam.

Ah, Sonic...

Err, o passado condena.

Seus olhos carregavam a loucura, a loucura que ela aprendeu desde pequena com um grande exemplo. Meus ouvidos tentavam deixar os seus gritos de lado, meu sangue tentava renegar que pertencia a aquele monstro e meu coração, já estava acostumado. Aqueles tapas não atingiam meu físico, aqueles tapas tingiam minha alma, de verde, de azul e principalmente de um vermelho vivo. Só as minhas paredes podem contar como foram meus gritos, só o meu espelho pode te contar a minha aparência.
Desejei tanto naquele momento ser um espelho, só para aquela pessoa poder se ver e perceber como estavam seus olhos e como ele agia sem pensar. Mas, infelizmente eu me tornei um fantasma, como fantasma seus braços passavam por mim tão leves que nem mesmo os sentia. Para destrair, me sentei
e fiquei pensando nessas palavras a serem ditas, escritas; explicadas. Naquele momento, optei por não sentir, não ter sentimentos. E poucas vezes mais eu o tive.


Este penultimo texto me reportou para um texto que fizera a muito tempo atrás, achei ele e fiz algumas alterações para poder divulgá-lo publicamente. Mesmo sabendo que ninguém lê isso, haha.