terça-feira, 26 de abril de 2011

O sonho de ser lobo

O dia 26, ainda bem fresquinho, ia chegando de passos finos para que não acabasse assustando o dia 27 que ainda não tinha acordado. Usando um vestido lilás alaranjado e um perfume de sereno, ele pegou suas coisas e foi embora: só trabalhava uma vez por mês.
Ela, que nem mesmo sabia qual dia estava por sair ou qual dia estava por chegar, estava em mais uma cama desconhecida sem saber o que tinha feito no dia anterior, mas já não achava estranho. Levantou procurando por pistas e, antes disso, por seu óculos. Andou entre os poucos cômodos que tinha aquela casa estranha até se deparar com o baú de tesouros que um libertino diariamente necessitado de sexo procura ao acordar em uma casa estranha: um porta retrato.
Pegou-o com seus dedos descascados e apertou os olhos para encará-lo com maior nitidez. Era uma foto dela ao lado de algumas pessoas da sua faculdade. Ela tinha uma foto igual aquela, mas não se deu conta do que aquilo significava, imaginou apenas: comi quem não devia.
Deu-se conta do que estava acontecendo apenas quando foi de encontro à cozinha e mais especificadamente, à lista de compras escrita em um post-it verde limão: aquela era sua própria casa.

Eu não me reconheço mais, não enxergo minhas características nas minhas roupas, no meu quarto ou dentro de mim. Não me vejo nas qualidades sagitarianas ou nos argumentos aquarianos, por mais que eu queira. Estou mais pra capricórnio e espero que você entenda o que estou dizendo e o quanto isso me irrita. Antes me via como lobo, achava que era corajosa, mas agora percebi que sou um York Shire.
Cansei de no domingo acordar e perceber que peguei no sono enquanto via televisão: Quero viver a vida que quero viver.