terça-feira, 24 de agosto de 2010

verde. verdade. vomito. vick.

Corri envergonhada para sofá apenas deixando uma mensagem de espera, joguei as almofadas no rosto e coloquei os meus braços contra meu corpo. Fiquei vendo o máximo que conseguia ficar sem respirar. Iam contando elefantes, alguns mais acelerados, uns que pulei e outros que deixei para trás inexistentes. Meu coração sambava como uma dançarina que não via o carnaval a muito tempo, ou como uma fotógrafa cega que conseguiu rever o mundo outra vez.
Disquei os números muito rápido e nem conferi pra ver se estava certo, a ligação foi pro lugar errado. Desliguei e comecei a rediscar todos os números até chegar ao que eu queria.
-Alô? - A voz certa atendeu
-Oi, aconteceu o que você imaginava.
-E como você está? E como foi tudo? - Implorando por ansiosos detalhes
-Agora não dá pra contar - Falei em tom de segredo, mesmo estando com a casa vazia - Só quero que me conte uma história.
-Que história?
-Qualquer uma
E aos poucos ela foi inventando.
-Só quero que não tenha nada a ver comigo - disse como ultimo pedido.

Essa é a história de uma menina que gosta de ficar sozinha em casa, e ahnn... Ela gosta dos seus amigos também... Ela ama sair com eles e.. Não consegue lembrar-se de todas as letras de música, mas inventa as partes que considera desimportantes. E quase nunca sobra alguma coisa... Hmm. é... Ela gosta de patinar. E uma vez, e uma vez... Quando ela foi patinar, é, ela caiu e morreu.
Não. Não vou acabar ainda.
Ela gosta do vento. Ama quando ele sopra na sua cara e trás com ele uma parte de todos os lugares que ela não conhece. Melhor, que não conhece ainda. Ela tem vontade de andar pelo mundo todo... Come muito chocolate, gosta de sorvete. Ah, é. Quem não gosta? hm... Deixa-meeu ver... Ah, já sei. O seu hobbie favorito é olhar a paisagem pela janela do carro, só que enquanto ouve música. Parece que tudo dança no ritmo de seus fones de ouvido. hahaha, ela se parece comigo - Ela disse sorrindo pelo telefone - E me diga, como você está?
- Eu estou bem, confiante, agora. - Eu disse chorando.
- Ah não, você está chorando?
- Não, juro. - Menti.
- Eu tenho que ir, vou tomar sorvete com meus avôs.

Ah, como eu a amo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Sorvete de Banana

Não é tão fácil como discutir ou aplicar suas opiniões em uma discussão. Aprendi com o tempo, um ótimo professor aliás, que se precisa olhar bem fundo dos olhos de quem precisa ser convencido e colocar as palavras mais fortes em seu ponto mais fraco. E eu já fiz isso muito, convenci muito, prometi muito. Mas, até então, não sabia que tinha falado demais. Nas minhas regras primordiais, de uma pessoa que tem a lua em virgem, jurei que nunca prometeria o que não poderia cumprir e que nunca transformaria minhas vitórias em brigas, em manipulação. Sempre achei que deveria ser coerente com o fazer e o falar.
E desde que me entendo por gente, fui. - Eu me entendo por gente?
Quando eu era criança, das bem pequenas e rechonchudas eu pedi a meus avôs uma máquina de fazer sorvete de uma apresentadora de televisão, que posteriormente considerei idiota. Era cara demais, eu chorei, eles me deram. Perguntaram-me antes se eu sabia fazer o sorvete, se eu sabia montar, se eu queria mesmo e se eu ia mesmo usar. E eu ia, eu tinha plena certeza que eu sabia como agir, que eu sabia como montar, que eu ia tomar muitos sorvetes feitos por mim mesma. Era tudo que eu sempre desejei, mesmo sabendo que não foi de sempre.
Quando ela chegou, a caixa era do meu tamanho. Abri-a e me deparei com milhares de peças pra montar que eu não sabia onde encaixar, nem a metade delas. Com todo meu ego e dificuldades de admitir: pedi ajuda. E apareceram várias, milhares de pessoas que achavam tão fácil montar uma máquina e sorvete infantil! Talvez, eu até mesmo ajudasse, se não fosse minhas próprias dificuldades.
Montamos.
Eu sempre achei que esta experiência de vida, se tratava de um exemplo claro de ter compra consciente, ou de não ser pré-conceituoso ou de sempre ter um guia de mecânica debaixo dos braços. E é, mas só hoje, talvez uns 8 anos depois, eu percebi que se trata do seguinte aprendizado:
-Cuidado com o que você deseja.
Você já deve ter visto isso na sessão da tarde, junto com as pombas brancas, rosas vermelhas e correntes quebradas em mãos negras. É clichê pra mim.

O problema de procurar nos olhos dos que precisam ser convencidos, é que eu preciso ser convencida. Por mim mesma que posso aprender a usar essa máquina de sorvete. Que posso aprender como se monta, sem nem precisar achar algo demais ou de estranho nisso. Eu dizia o tempo todo que sabia o que teria de fazer, eu já disse isso pra você. Não adianta achar meu ponto franco, não tenho palavras fortes para quebrá-lo. Esse é um trabalho que tem que ser seu.

Hoje, sinto desejo de tomar sorvete. Sorvete de banana.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Terra de Gigantes.

Uns pequenos monstros verdes aparecem, pessoas se transformam em gatos, constroem bolsas com sua pele, assisto a um teatro de pulgas, pessoas levam galinhas ao colégio, morro afogada enquanto os olhos de minha amiga tocam violino.
Acordo.
Levanto, procurando com o tato dos dedões do pé a pantufa branca, logo embaixo da cama. Procuro meus óculos na cabeceira ou algo que tenha esquecido ali por cima para matar minha sede. Acabei caindo, não foi unicamente um tropeço ou um pequeno susto. Caí a metros, como se não tivesse mais chão, como se o próprio centro da terra estivesse a minutos de ser apresentado a mim.
Cheguei.
Ainda jogada no chão, sem coragem para abrir os olhos. Levantei-me devagar conferindo se ainda estava tudo no lugar certo e com uma contagem intencionalmente relaxante, abri os olhos.
Ao certo, eu não sabia a principio o que havia acontecido. Das duas uma: Ou eu havia ficado realmente pequena, ou o quarto havia crescido muito rapidamente.
Cresci achando que quartos não cresciam e que adolescentes não diminuíam, mas, quem sabe não era mais um daqueles choques, como quando descobrimos que os pais não plantam sementinhas, que Pipi Meia longa não é o melhor livro do mundo ou que não existe papai Noel?
Apenas me sentei, imaginando como descobriria quem havia mudado primeiramente, eu, ou o quarto? Por meu dinheiro? Não. Por minhas meias? Não. Por minhas roupas? Se um quarto amadurece, o que há dentro dos armários também? Também não sabia responder essa, no mesmo instante me veio à conclusão: Se eu tivesse diminuído as roupas do meu corpo estariam enormes agora. No entanto, estavam do meu tamanho. O quarto que crescera repentinamente.
Não quis levar essa reflexão em diante, pouco me importava o resto: agora estava tudo muito longe do meu alcance.

Devo desculpas a você, traí sua confiança. Eu sabia que ultimamente tenho limitações com a escrita e não consigo chegar nenhum final. Eu tinha absolutamente certeza que teria que dizer essas palavras, mas tanta certeza que até mesmo pensei anteriormente nelas. A verdade é que, talvez você já saiba disso. Só que é novidade pra mim: O mundo é muito grande e eu sou muito pequena.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Edward

O andar dificultado, andar comprido, pesado fui subindo degraus demoramente, com cautela, pensando muito mais em desistir do que em me concentrar ao próximo. Ela não era tão pesada, era uma faca leve, mas agia como uma aliança de compromisso em dedo jovem, cheio de negamentos, cheio de peso, de calor. Passara a última semana inteira fitando ela enquanto tentava escrever, rabiscava o texto com veracidade e com raiva lançava-o para um lixo bem longe. Ela viu tudo, viu meus pensamentos inicias, refletiu em seu lume minha dor, meu choro. Ela viu minhas três desistências e minhas quatro vitórias e meia, ainda não posso contar com essa. Assistiu todos os planos, todo o anseio, mas não viu o motivo. Transformei minhas mãos magras em armas, enfiei nas articulações entre os meus dedos, as lâminas mais afiadas que consegui comprar com o troco do almoço. Perdi os movimentos, alguns dedos e quase todas as unhas que deixara de roer. Construí o que há de mais bizarro, com o maior terror, feito do medo e da covardia que tenho em mim, usei cada elogio que poderia ter-lhe dito misturada com a carência de dor: Minhas mãos agora eram tesouras.
E você aqui, tão perto, a distância de um único beijo: o último. Um abraço apertado, um beijo apenas no pescoço. E mesmo que minimamente falado, um único apenas sussurro de amor rouco, eu não posso. É perto demais, é arriscado demais para seu rosto ou para os meus olhos favoritos. Eu já lhe quis ver morto, já pensei em trocar um dos meus olhos para fechar os seus. Já arquitetei sua morte e já repulsei seu sorriso. Mas, o que é o amor além de ódio e obceção? Agora o amo, e não o posso pelo o que eu mesma construí.
No último degrau, pego a faca: agora é mais tarde.

Ultimamente, tudo que escrevo acaba em morte.