domingo, 25 de setembro de 2011

Só um comentário: Leia o comentário

Empurrou a porta com a palma da mão para não sujar as pontas dos dedos que ele – por autoconhecimento – tinha certeza que colocaria na boca nos próximos minutos. Entrou perguntando se tinha alguém na casa e ao ouvir uma voz de retorno parou de se mover e, como de esperado, colocou o dedo na boca e roeu um pedaço de unha que aguardava os seus dentes.
A voz entrou no mesmo cômodo que ele e como resposta automática disse “Que deliciosa surpresa tê-lo aqui!” – então ela parou e viu que não era uma resposta automática. Era realmente uma deliciosa surpresa tê-lo ali, daquele tipo de realidade que se sente sobre o peito e quase pode pegá-la com as pontas de dedos ruídos.
- Eu estou surpreso em estar aqui também, e acho isso delicioso! – era verdade.
Eles se entreolharam, deram pequenos risos e ficaram ali se olhando, procurando algum tema idiota pra preencher o espaço vazio: nada. Era engraçado, sabe? Pessoas que conheciam umas as outras mais do que à si mesmas, que agora, não tinham mais assuntos e trocavam o seu passado interligado por um presente branco.
- É hora de ir, foi bom te ver! – resposta automática
- Foi bom matar um pouquinho da saudade, não é mesmo? Pode vir quando quiser! – resposta automática.
-
-
-
- Eu sinto sua falta. – verdade não dita.