terça-feira, 18 de maio de 2010

473 páginas.

Cansei mesmo de estar no sofá escolhendo sempre as palavras certas pra poder falar com você, como se não pudesse escolher as erradas. Cansei de ter que parecer sempre correta e reta, sem linhas tortas ou opções. Não vou mais passar minhas tardes de domingo procurando em todas as 473 páginas do dicionário a descrição do que eu sinto. Agora mesmo eu só quero correr, bem rápido, correr, correr e correr. Sem rumo, não tenho tempo pra pensar em um. Quero ir embora muito rápido, mas sem as ligações de aviso ou as cartas de saudades. Não quero só fugir, quero desaparecer, sumir. Cansei de tudo, é verdade, e cansei das verdades também. Agora prefiro mentiras a brigas, mesmo sendo contraditória ao dizer isso. Cansei de todas as mensuras obrigatórias, dos desentendimentos pela temperatura do ar-condicionado ou pelo canal da televisão. Mas nunca vou me cansar de correr, mesmo odiando educação física.
Não vou me suar também, correrei sempre acompanhada da tristeza, que deixa os ombros frios e das lágrimas que umedecem o rosto.
A causa disso tudo? Correria, o tempo anda correndo e com ele, eu correrei. Não respiro mais com calma, levo sempre o mundo ofegante para dentro de meus pulmões. O afeto me ocupa, como demonstrarei carinho se tenho que cumprir com meus deveres, escovar 21 vezes os dentes e esquentar a água do café?
Se a vida propõe uma corrida, eu nego. Mas é necessário e desta vez eu aceitei, mesmo não tendo habilidade ou o tênis indicado.


Ei, você. Me diz quanto tempo falta pra acabar a batéria das pilhas do tempo?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Meia sozinha do sapato velho.

Gargalhadas são bem suculentas, disso não posso negar. No entanto, os que me conhecem sabem, por eu gostar de deixar claro mesmo nos mínimos desabafos que minha preferência são os sorrisos tortos. Gosto tanto deles que se não fossem tão raros e caros, se não fossem tão difíceis, eu viajaria o mundo em busca de todos os sorrisos cabisbaixos existentes.
Já procurei muito o impossível, mergulhei nas utopias e me alimentava de sonhos aquarianos, que hoje deles eu faço dieta. Gosto mesmo agora é de mim, não exclusivamente. Só quero me alimentar dos meus sorrisos e de mais alguns poucos que me importam. Monólogos ou músicas solos são tão admiráveis quanto pessoas solitárias, talvez eu seja mesmo como aquela meia velha que fica no fundo da gaveta, sem muita utilidade. Hoje, neste momento narcisista, tenho clara certeza de que as melhores meias são as que não tem par. E como meia sozinha observo os detalhes de um braço nu, antes preenchido de palavras doces e esperançosas, de palavras alegres e desabrigadas, sentimentos definitivamente perdidos. Leio, re-leio e lerei mais 64 vezes as palavras que agora foram lavadas com sabão e apagadas. Palavras que não eram pra ser lidas, que não deveriam ter sido escritas para manter meu coração saudável. Neste momento, como meia sozinha eu delicadamente te pergunto:
Para onde vão os pares de meias perdidos?

Preciso de um rumo na minha vida.