terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tennyson

Ainda era só inocência de pós-criancisse imatura. Era só sede de ausência e vontade de comportamentos não controláveis. Procurando aquele tão famoso caminho de gente perdida do qual tanto falo, que às vezes é guiado pela diversão. Eram só luzes dessas que brincam e pintam os ambientes, com um pouco de riso exagerado e esperança.
Era inocência porque não sabíamos que tínhamos passagens compradas pro inferno, não sabíamos que não deixaríamos nossas mentes vagarem pelo acaso. Ela era controlada pela vontade e, principalmente, pelo medo. Não era um inimigo desconhecido, no fundo tremíamos frente a nós mesmos.
Dali a pouco viriam se arrastando os nossos maiores temores, as mais doloridas vertigens de cada uma daquelas almas machucadas. Cada visitante viria preparado pra atingir especificamente o que mais dói, o que derruba. Trazendo como armas nossas antigas lágrimas em formas de veneno.
É nocivo sim, muito perigoso aliás, encarar a realidade. O problema, que vem logo em seguida, é que toda fuga é muito arriscada. Sempre que decidimos fugir, de início, a vontade é mais de fugir de nós mesmos do que de algo que por ventura nos incomoda. Logo, desejamos tanto de forma insegura perder nossa consciência que optamos por sangrar os ouvidos.
O interesse nós serve como pernas, não é verdade? Os nossos olhos são a necessidade, e a mente sempre acaba perdendo posto pra qualquer uma das anteriores.

Nada é mais interessante e necessário pra mim do que dar umas boas risadas acompanhadas de palavras sem sentido nenhum. Com ortografia errada, sem gramática e ática nenhuma. Sem pudor, sem alergia, sem hipocrisia...

Com satisfação.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Última

Esquece tudo, te peço.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Iremos fugir juntos?

Já fazia trinta minutos que ela tinha se sentado ali, havia pego um ônibus lotado, com uma mochila nas costas levando tudo que uma garota levaria se pretendesse nunca mais voltar em casa, com a exceção da saudade.
Ela sabia ler relógios de ponteiro. Teve de aprender quando escolheu ser independente, não é mesmo? A verdade é que mesmo sabendo, ela lia e relia nunca acreditando nela mesma. Ou talvez no erro de outro.
Ela tirou um bilhete amassado do bolso que confirmava "Sexta-Feira, 3 horas" e o nome da rua. Ela olhou pra o pulso mais uma vez, olhou pro horizonte vazio, ele não estava lá, e olhar seguidamente para o relógio não traria ele para seu lado.
Ela o procurava - e talvez até achasse - um pouco dele em todos os rostos, qualquer um poderia ser o dele. Ela nunca tinha o visto, não sabia o seu nome, o seu cheiro, a cor de seus olhos e muito menos o seu signo. Mas ela sabia: Ele era ela; ela era ele.
Então profetizou: Iremos fugir juntos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Passado

Eu já fui morta, pisoteada. Já me chutaram tão repetidas vezes que já estou pronta, apta. Agora posso matar também. Eu devo cuspir, eu devo gritar. Fazer birra quem sabe? Agora eu me toco fogo, me queimo. Fumo, estrago meus pulmões, injeto em minhas veias a minha dor, ou contamino alguém com ela.
É assim que você funciona, então?

domingo, 3 de outubro de 2010

A-do-le-ta. Lepeti, peti-co-lá

Subi em cima de uma árvore e chorei, assim feito criança ou por saudade de assim ser. Havia tirado meus chinelos e as meias erradas e fui andar descalça por toda a terra que já andei antes. E apesar de estar ali, sentia saudade de ali estar. É possível? Sentia saudade de calçar 32, usar um short horrível que comprei na feira por cinco reais, pra economizar na mesada. Saudade da minha barriga enorme e da minha camisa que só a cobria pela metade. Sentei no lugar onde havia quebrado o braço, me sentei no toco de um tronco das maiores árvores que ali já estiveram.
Eu já fui tão pequena, sabe? Sempre inocente, faz parte da infância, eu acreditava que minha mãe sabia de tudo, já que ela havia acertado colocar a perna da boneca no lugar. Achava que não existia gente mais inteligente que meu pai, ele sabia escrever com letra cursiva. Minha visão de mundo era tão pequena que até entendo, agora, o motivo de tantas reviravoltas comigo mesma: Eu cresci, estamos crescendo.
Eu me lembrei da minha galinha que era a mais rápida do mundo e que colocava ovos verdes, eu juro e tenho fotos pra comprovar. Lembrei-me também da manhã que acordei e percebi que em uma única madrugada as formigas levaram todas as folhas da árvore de acerola, ou de quando vi o chão do banheiro cheio de granulado derrubado e descobri que isso não era, eram moscas detetizadas. Das brigas com meus primos, do sorvete, das besteiras, dos bolos de chocolates, das pescarias, das cavalgadas, de querer fugir, de querer ficar.
E não me lembrei de tudo, não é possível. Por sorte, foram poucos os arrependimentos que restaram. Quase nenhuma mágoa ou trauma que sirva como martelo pra minha cabeça hoje em dia.
Eu sei que você pode dizer o mesmo, mas, eu tive a melhor infância de todas. Quando eu era pequena não entendia porque os adultos falavam de ser criança, achava que eles nunca tinham sido. Eles falavam que a infância era mágica e tudo mais, e eu achava bobagem. Vai muito além de mágica, a infância é tudo, é toda nossa formação, é linda, encantadora e hipocritamente madura. Eu queria poder dizer pra alguma criança o quão importante está sendo o minuto que ela está vivendo, mas de nada adiantaria. A Vida não deixaria que ela entendesse ainda.
Eu estou envelhecendo, e você também.
Bem agora, alguém, muito mais velho que nós dois está sentindo falta da nossa idade, e dizendo o quão de sorte temos.

E daqui a algum tempo vou ser eu que dirá, e depois você. Depois seus filhos, seus netos e todos aqueles rostos estranhos que não farão diferença pra você. Não fui a primeira, nem a última e você também não será.

E há quem diga que a Vida é muito boa.