terça-feira, 29 de março de 2011

Imagem e Semelhança

Eu já tive um gato preto, e quem me acompanha de perto deve saber que o quanto eu gostava de suas peculiaridades e o fato dele ser a única coisa que me faz chorar.
Para minha mãe, que sofria de alergia a ele, amanhã era sempre o dia dele ir embora e a coragem pouca que ela tinha, não era forte o suficiente pra superar a vontade - mais tarde considerada por mim como necessidade - de que ele simplesmente saísse da nossa casa. Até o dia em que ela teve o sonho que uma imagem, significativa para ela, aparecia e lhe dizia a urgência que ela tinha em mandar o gato embora da casa: Está lhe trazendo azar.
Sempre que me perguntavam o motivo do meu gato ter ido embora da minha casa, envergonhada, não tinha coragem pra assumir o caráter - naquela época pensado como - insensível da minha mãe em tê-lo dado por esse motivo, dizia apenas que ela era alérgica e pareciam motivos suficiente para a maioria das pessoas desinteressadas em minha vida.
O que tenho de novo pra dizer é: Eu realmente sabia que ele trazia azar.

Vincent também foi o meu corte de cabelo.

Já fui a milhares de julgamentos onde eu era a criminosa, mas não tinha advogados a meu favor. Não poderia continuar a fazer as coisas que eu gostava ou adquirir novos gostos porque eu tinha recebido a sentença de prisão por mais de um juiz.
Eu levava na minha testa - mais precisamente, na minha cabeça - a regra que não poderia ser nada além da representação "emergente" de sabedoria.

Mas eu sabia que o gato trazia azar, eu sempre soube.

Eu sei hoje em dia que tudo o que carrego em mim teve a ver com o meu corte de cabelo, e você pode associar isso com a minha vontade de ser diferente ou acreditar que eu tinha piolho - não quero saber qual opção você escolhe. Por tanto tempo incorporei tanto em mim a imagem falsa que carregava, que nunca tive coragem de expressar minha real opinião sobre os meus gostos - até hoje.
Admitir que eu sou tudo o que sou hoje por culpa de um corte é como admitir que meu gato trazia azar e aceitar a postura ridícula da minha mãe de tirar de mim uma das coisas que mais amava no mundo. Eu admito que mudei só pelo meu cabelo, mas não foi uma escolha minha.
Todo o medo que você carregava, toda a insegurança que você tinha deu virar a esquina com a camisa de uma banda que você gostasse - e que eu mal conhecesse. Fez com que eu buscasse saber sobre essa banda: Eu tinha medo que me perguntassem sobre. Aquela sua aflição por completa, deu adicionar aos meus favoritos, os seus favoritos só me fez com que escutasse falar sobre eles. E a culpa foi sua, babacas, escrotos e filhos da puta.
Não foram esses fios que faltam no meu cabelo que influenciaram diretamente na minha mudança de postura por completa, eu tinha 13 anos, foi a sua filha-da-putagem que me fez insensível, mais impaciente e mais grossa. Tornei-me a imagem e semelhança da sua insegurança.
Já passou, faz dois anos, mas não leve em consideração até hoje pra me considerar incapaz ou desoriginal de certas coisas.

E nada - nada - vai trazer Vincent de volta.

3 comentários:

  1. Eu gosto de gatos. Acho que o azar que eles dão depende do ponto de vista.

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  2. Meu Deus, que estilo lindo de escrever! Parabéns!

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  3. me apaixono por você a cada texto que leio

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